O jornalista moçambicano Jeremias Vunjanhe chegou na noite desta segunda-feira (18/06) ao Brasil para participar tanto de eventos na Cúpula dos Povos quanto também na Rio+20. Impedido de entrar no país por agentes da Polícia Federal no último dia 12 no aeroporto, ele foi recepcionado com muita festa por um grupo de cerca de cem ativistas no aeroporto internacional do Galeão, no Rio de Janeiro.
Amigos da Terra/divulgação
Recepcionado com músicas e batuqyes, Vunjanhe foi muito abraçado e até carregado por seus companheiros ao chegar ao Brasil
Já nesta terça-feira (19) ele participará de um ato de protesto em frente à sede da Vale, no centro da capital fluminense, às 18 horas. O trabalho de Vunjanbe faz duras críticas sobre a atuação comercial de uma mina de carvão na província de Tete (centro de Moçambique). Logo ao chegar, ele concedeu uma coletiva afirmando que sofreu recentemente ameaças da empresa.
Vunjanhe manteve a versão sobre sua deportação da semana passada. Segundo ele, dois agentes da Polícia Federal o detiveram em Cumbica sem lhe dar qualquer explicação e ainda carimbaram em seu passaporte a palavra “impedido”, com um selo que o incluiria no Sistema Nacional de Procurados e Impedidos. Ele foi obrigado a retirar um novo passaporte em Moçambique.
O Ministério das Relações Exteriores, que intermediou a volta do ativista, afirmou não-oficialmente que ocorreu um erro por parte da Polícia Federal que, por sua vez, não comentou o caso. “Foi revoltante ter passado por aquela situação. Acima de tudo porque não havia e ainda não há explicação consistente sobre o que aconteceu”, afirmou.
A organização da Cúpula dos Povos e a rede de ONGs em que Vunjanbe trabalha, a Amigos da Terra, exigem um pedido de desculpas e os devidos esclarecimentos da Polícia Federal sobre o caso, além da retirada do nome dele da lista de impedidos da PF. Eles estudam também entrar com um pedido de reparação moral e material.
Suspeita
Embora afirme que não te como provar, Vunjanhe acredita que sua pressão pode ter sido uma represália por seu trabalho. “Alguma coisa aconteceu. Denunciamos veementemente os atos da Vale em Moçambique e sabemos que isto não tem agradado tanto a multinacional assim como alguns setores do governo moçambicano. Nos últimos trabalhos que fiz na província de Tete sofri perseguições e ameaças por parte do governo e da empresa”.
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Perguntado sobre qual tipo de ameaça ele teria sofrido, Vunjanbe afirmou que um funcionário da empresa foi procurá-los na vila de Kateme (em Tete) aconselhando que encerrassem seu trabalho. Ele também disse que foi impedido de entrar em um reassentamento da Vale no local e depois conduzido a um posto de polícia local.
Segundo o jornalista, existem atualmente em Moçambique 1365 famílias, a maior parte delas de agricultores, que perderam suas terras nos últimos três anos ao serem reassentadas pela Vale em razão da exploração da mina. Segundo o jornalista, muitas delas não receberam o valor de reparação combinado e, além de viverem em casas de condições precárias, foram parar em terras sem condições de cultivo. A promessa da empresa em fornecer assistência técnica e agrícola para elas teria sido abandonada. “Em janeiro, cansadas pelas precárias condições em que vivem, as pessoas saíram às ruas para protestar e bloquearam a linha de ferro da Vale em Tete. A empresa, por sua vez, solicitou a intervenção da polícia e os manifestantes foram brutalmente espancados”.
O incidente diplomático fez com que ele perdesse alguns de seus compromissos nas duas conferências, em especial o III Encontro Internacional do Atingidos pela Vale, grupo que protesta contra atuações da mineradora tanto no Brasil quanto no exterior.
A ONG Amigos da Terra levou ao aeroporto algumas pessoas que afirmam ter sido vítimas da ação da empresa tanto no Brasil quanto no exterior. Além do ato contra a empresa à tarde, a Cúpula dos Povos concentra sua jornada hoje em uma campanha contra as corporações multinacionais.