Javier Matías Darroux Mijalchuk desapareceu em 1977, quando tinha quatro meses, e foi adotado por uma mulher que afirma ter encontrado o bebê abandonado em uma rua de Córdoba, na Argentina. Nesta quinta-feira (13/06), 42 anos após seu desaparecimento, o movimento Avós da Praça de Maio anunciou a comprovação da identidade do neto de número 130, raptado pela ditadura militar na Argentina (1976-1983): Matías é filho de Elena Mijalchuk e Juan Manuel Darroux, ambos desaparecidos em dezembro de 1977.
Segundo a presidente da organização, Estela Carlotto, foi o próprio Matías quem inciou a busca e procurou a sede da organização em Córdoba, pois possui “dúvidas sobre sua identidade”. “Eu resistia em procurar as Avós porque estava bem com quem eu era, ou acreditava nisso, mas no final de 2006 entendi que se buscar minha identidade não era tão importante para mim não podia ser tão egoísta porque, do outro lado, poderia haver pessoas me procurando”, disse Matías em coletiva de imprensa realizada na sede da organização, em Buenos Aires, na qual fez questão de participar ao lado de Carlotto e de seu tio, Roberto Mijalchuk.
“A restituição da minha identidade é uma homenagem aos meus pais, um afago na alma. Quero agradecer mais do que qualquer outra coisa. Queria falar de coração e agradecer a todos que contribuíram com a restituição da minha identidade”, afirmou o homem de 42 anos que começou a busca quando era um jovem de 19 e vivia com seus pais adotivos.
As famílias Mijalchuk e Darroux buscam desde os anos 1980 o paradeiro dos pais de Matías, Elena e Juan Manuel, mas a formalização só veio em maio de 1999, a pedido de Roberto, irmão de Elena. Diante da denúncia, a Comissão Nacional pelo Direito à Identidade (Conadi) iniciou a busca pelos desaparecidos e colheu amostras de sangue de ambas as famílias, o que possibilitou a comprovação da identidade de Matías.
Abuelas de la Palaza de Mayo/Reprodução
Da esquerda para a direita: Estela Carlotto, presidente da organização, Javier Matías e seu tio, Roberto Mijalchuk
Apesar da confirmação do neto 130, ainda não há dados sobre o paradeiro de Elena, que estava grávida quando desapareceu, e Juan Manuel. “Esperamos que alguém, vendo as fotos dos meus pais, possam fornecer um dado, algo sobre eles”, disse Matías.
“A análise [dos dados genéticos de Matías] deu positiva, mas as causas do desaparecimento de seus pais ainda seguem abertas”, disse Carlotto, presidente das Avós da Praça de Maio.
Movimento de busca por desaparecidos
A Associação Civil Avós da Praça de Maio é uma organização não governamental, que tem por intuito localizar e retornar às famílias legítimas todas as crianças desaparecidas em sequestros pela ditadura. A ideia é criar as condições para prevenir que esses crimes voltem a ocorrer, exigindo punição aos responsáveis.
De acordo com estimativas da ONG, durante o regime militar, as autoridades se apropriaram de pelo menos 500 bebês, muitos deles nascidos em centros de torturas, hospitais militares e delegacias.
A neta de número 129 havia sido encontrada ainda em abril deste ano. Ela era filha de Carlos Alberto Solsona e Norma Síntora, que foi sequestrada pela ditadura em 1977 e estava grávida de oito meses.