O Fed (Banco Central dos EUA) decidiu nesta quarta-feira (04/05) aumentar a taxa básica de juros do país em 0,5 ponto percentual, para uma faixa de 0,75% a 1%. É o maior aumento desde 2000, e constitui uma tentativa para combater a alta nos preços.
A inflação nos EUA está aumentando em um ritmo que não era registrado há 40 anos, e mais altas da taxa básica de juros são esperadas nos próximos meses.
“É essencial que baixemos a inflação”, disse o presidente do Fed, Jerome Powell, em uma entrevista à imprensa. Ele disse que mais aumentos de 0,5 ponto na taxa de juros estariam “sobre a mesa nas próximas reuniões”, mas que um aumento de 0,75 ponto não está sendo considerado.
As ações norte-americanas subiram acentuadamente após os comentários de Powell, com o S&P 500, índice de 500 ações negociadas em bolsas de Nova York, saltando 1,7%.
A atual taxa básica de juros dos EUA, de 0,75% a 1%, é a mais alta desde o início da pandemia de covid-19.
Plano de vender títulos
O Fed também anunciou planos de reduzir seu balanço patrimonial de 9 trilhões de dólares (R$ 44,1 trilhões) para lidar com o rápido aumento dos preços. Em outras palavras, pretende começar a vender títulos do governo e outros ativos que comprou no passado para estimular a inflação e o crescimento.
Uma declaração do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) do Fed observou o impacto “altamente incerto” de fatores externos como a invasão russa da Ucrânia, que estão “criando pressão adicional para cima sobre a inflação e que provavelmente pesarão sobre a atividade econômica”.
“Os bloqueios relacionados à covid na China provavelmente acentuarão disrupções na cadeia de abastecimento”, o que poderia também aumentar a inflação, disse o FOMC.
Os bancos centrais de vários países estão aumentando os custos dos empréstimos em um esforço para amortecer o impacto da inflação. Mas também há preocupações de que tais iniciativas possam dificultar o crescimento econômico e até mesmo empurrar grandes economias para a recessão.
Os preços estão subindo em um momento em que muitos países, ainda cambaleando devido à pandemia, estão enfrentando pressões adicionais devido às interrupções na cadeia de fornecimento causadas pela guerra na Ucrânia.
Yasin Ozturk/AA/picture alliance
Prédio da sede do Fed, em Washington
Como outros países estão respondendo à inflação?
A maioria das economias do Ocidente tem mantido suas taxas de juros em ou perto de zero, um nível baixo e mais ou menos constante desde a crise financeira de 2008. Entretanto, a pandemia e os caros mecanismos de enfrentamento adotados em grande parte do mundo já estavam aumentando a inflação e provocando discussões sobre uma mudança de rumo, mesmo antes do conflito na Ucrânia colocar pressões adicionais sobre os preços dos alimentos e dos combustíveis.
O Banco Central da Índia também aumentou a taxa de juros básica na quarta-feira, apenas horas antes do anúncio do Fed. Foi sua primeira alta desde agosto de 2018. A terceira maior economia da Ásia aumentou os custos de empréstimo em 40 pontos base, para 4,40%, com efeito imediato.
“Como várias tempestades caíram juntas, nossas ações de hoje são passos importantes para estabilizar o navio”, disse o diretor do Banco Central da Índia, Shaktikanta Das. “As pressões inflacionárias mais alarmantes, persistentes e disseminadas estão se tornando mais agudas a cada dia que passa.”
Ele observou que a escassez de óleos comestíveis devido ao conflito na Ucrânia estava fazendo com que os preços dos alimentos na Índia subissem rapidamente. A Índia é o maior importador mundial de óleos comestíveis, incluindo óleo de palma e de soja.
Na terça-feira, o Banco Central da Austrália anunciou um aumento maior do que o esperado de 25 pontos base, elevando a taxa de juros básica para 0,35%, no primeiro aumento em mais de uma década.
O Banco da Inglaterra também deve aumentar nesta quinta-feira a taxa de juros básica pela quarta vez consecutiva, de 0,75% para 1%.
O Banco Central Europeu, por sua vez, tem resistido até agora a tal movimento. O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, disse em uma entrevista publicada no fim de semana que o Conselho do Banco Central Europeu não havia discutido “nenhum caminho pré-determinado para o aumento das taxas”.
O Brasil está vivendo um aumento da sua taxa básica de juros, a Selic, há um ano, desde maio de 2021. Nesse período, a taxa subiu de 2% para 11,75%, e há expectativa de uma nova alta de 0,5 ponto percentual também a ser anunciada nesta quarta-feira.
A meta de inflação para o Brasil em 2022 é de 2% a 5%, mas operadores do mercado e o próprio Banco Central estimam que os preços subirão cerca de 8% neste ano.