Na América Latina, pessoas físicas e jurídicas, além dos governos, economizam pouco e mal, e isso restringe as possibilidades de crescimento da região, segundo um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) divulgado na segunda-feira (13/06) em Santiago, no Chile.
“A América Latina e o Caribe enfrentam uma crise de poupança, com realidades tributárias e demográficas que apontam para um futuro difícil”, afirma o estudo intitulado “Economizar para se Desenvolver: Como a América Latina e o Caribe Podem Economizar Mais e Melhor”.
A taxa de poupança nacional na América Latina e no Caribe entre 1980 e 2014 foi de apenas 17,5% do Produto Interno Bruto (PIB), muito abaixo dos 33,7% registrados nas economias emergentes da Ásia e dos 22,8% das economias avançadas.
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BID aponta áreas onde governos da AL poderiam economizar mais e gastar de maneira mais eficiente
Somente a África Subsaariana registrou uma poupança inferior à AL, com 13,8%, segundo o documento.
“A região terá grandes desafios fiscais nos próximos anos”, prevê o órgão, que acredita que “aumentar as poupanças seria uma das chaves para garantir tanto o crescimento como o fortalecimento das economias”.
O estudo analisa também os motivos do baixo nível de poupança de pessoas físicas e governos e seus impactos econômicos, assim como as causas das limitações às oportunidades de investimento das empresas, que incidem negativamente sobre a economia empresarial.
“Pequenos incrementos nas poupanças poderiam levar a impactos significativos. Por exemplo, para cada ponto percentual adicional de poupança nacional, o investimento interno da região cresce em quase 0,4 ponto percentual”, afirma o BID.
“Isto equivale a US$ 20 bilhões adicionais disponíveis para financiar projetos de infraestrutura ou outros investimentos necessários para aumentar a igualdade e fortalecer o desenvolvimento”, acrescenta.
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Embora o sistema bancário na América Latina tenha crescido, ele ainda está muito abaixo da média da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos).
Além disso, as famílias, especialmente as de menores recursos, possuem um limitado acesso a instrumentos financeiros de poupança ou enfrentam altos custos.
“O problema se vê acrescentado pela pouca confiança nos bancos, um analfabetismo financeiro generalizado e a grande informalidade laboral”, adverte o estudo.
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BID argumenta que América Latina poderia converter dinheiro mal gasto em infraestrutura, caso economizasse
Apenas 16% dos adultos na região poupa em bancos. Nos países emergentes da Ásia e avançados, 40% e 50% da população, respectivamente, faz o mesmo.
As políticas fiscais também tiveram um grande impacto sobre a poupança, considera o relatório, que indica que “os gastos públicos são muito elevados em subsídios e baixos demais em investimentos de capital”.
“Os declives econômicos recentes pioraram esta situação, já que os governos optaram por cortar as despesas de investimento como substituição a reformas tributárias politicamente mais difíceis”, afirma.
O documento identifica áreas-chave nas quais os governos poderiam economizar mais e gastar de maneira mais eficiente. Assistência social, despesas tributárias (isenções fiscais) e subsídios energéticos sofrem as diferenças mais proeminentes, entendendo por isto que acabam beneficiando mais os ricos do que os pobres, por um montante de aproximadamente US$ 100 bilhões por ano.
A falta de eficiência em matéria de saúde e educação representa outros US$ 50 bilhões anuais.
Caso o problema fosse solucionado, haveria recursos suficientes para fechar a lacuna de investimento em infraestrutura que existe entre a América Latina e as economias avançadas.
Além disso, os governos da região enfrentam dificuldades na hora de arrecadar impostos, com uma evasão estimada de 52% da arrecadação potencial, amém de possuírem uma estrutura de impostos que penaliza a poupança.
Os sistemas previdenciários representam outra restrição, já que menos da metade da população da região economiza para sua aposentadoria através de um sistema previdenciário contributivo.
Neste sentido, o relatório alerta que, a menos que este problema seja corrigido, a situação piorará à medida em que a população envelheça.
Os investimentos na região devem aumentar durante décadas entre 2 e 4 pontos percentuais do PIB anual (dependendo de cada país), ou entre US$ 100 bilhões e US$ 200 bilhões anuais, para aliviar as limitações ao crescimento decorrentes do envelhecimento populacional.
*com Agência Efe