Poucos dias após o governo de Álvaro Uribe anunciar o acordo que assinará com os Estados Unidos para ceder bases militares nacionais aos norte-americanos, os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e do Equador, Rafael Correa, reagiram à notícia com declarações que agravaram a já delicada relação diplomática entre os três países. Analistas entrevistados pelo Opera Mundi divergem quanto à validade ou não das queixas.
Chávez foi o primeiro a afirmar, apenas dois meses depois do regresso de seu embaixador a Bogotá, Gustavo Márquez, que revisaria “integralmente” as relações diplomáticas com a Colômbia em função da “ameaça ianque”. Em seguida, anunciou que reforçaria os recursos militares da Venezuela para que o país esteja preparado a possíveis hostilidades.
Ontem (28), o líder venezuelano mandou retirar novamente Márquez e outros funcionários diplomatas, após chamar de “irresponsável” Uribe, por acusações de desvio de armas envolvendo as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), feitas no domingo (27).
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Já Correa, recentemente acusado pelo governo colombiano de ter recebido apoio financeiro das Farc para alavancar sua campanha presidencial, expressou sua indignação com o acordo prometendo resposta militar caso as Forças Militares colombianas voltem a ingressar no Equador, como o fizeram em março de 2008. Na ocasião, soldados abateram Raúl Reyes em um acampamento da guerrilha em solo equatoriano.
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Para Alfonso Rangel, diretor da Fundação Segurança e Democracia e colaborador da revista colombiana Semana, o alarme de ambos países é injustificado. “Um dos artigos deixa claro que o acordo não prejudicará outros estados. E estabelece que os vôos – a operação básica dessa cooperação são vôos de interceptação de comunicação – serão autorizados por autoridades colombianas e que membros das forças militares nacionais participarão dessas operações”, esclareceu Rangel ao Opera Mundi.
“Já que o objetivo principal é combater o narcotráfico e o terrorismo, esses países não teriam motivos para estar alarmados. Inclusive, em contraste com a reação da Venezuela e do Equador, vizinhos como o Peru, o Brasil ou o Panamá não expressaram este tipo de inquietação”, acrescentou.
Ressaltando o alto incremento de força militar em território colombiano nos últimos anos, Adam Isacson, diretor do programa latino-americano da organização independente norte-americana Center of Internacional Policy, discorda. “A Venezuela e o Equador estão muito assustados, e não falo só dos esquerdistas. Se lembramos o que aconteceu na fronteira equatoriana no ano passado e somamos a isso as constantes acusações do ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos aos seus vizinhos, há razões de sobra para estar preocupados”, opina.
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De imediato, perdas comerciais
O problema imediato da crise diplomática colombiana com seus vizinhos reside, no entanto, na complicação das relações comerciais entre esses países. A Colômbia é o segundo provedor de alimentos da Venezuela e, com o Equador, mantém importantes níveis de exportação.
Tanto Chávez como Correa já ameaçaram o governo de Uribe com sanções comerciais. “Muitos milhões de dólares em contratos já foram perdidos por causa da escalada militar colombiana. E isso pode piorar, porque as relações diplomáticas não se normalizarão prontamente”, prevê Ariel Ávila, coordenador do Observatório do Conflito Armado da Fundação Novo Arco Íris.
Por outro lado, Ávila acredita que o acordo das bases representa, entre outras, uma manobra comercial da Colômbia em relação aos Estados Unidos: “Bases militares em troca do Tratado de Livre Comércio, isso é o que se está negociando”.
Guerra e anti-americanismo
Por enquanto, um conflito armado em decorrência do incremento das forças militares de Uribe, Chávez e Correa permanece descartado. “Nem no pior dos casos vejo que isso seja possível”, diz Ávila. Já para Alfredo Rangel, que desconfia que o discurso de Chávez é mais retórico do que prático, “a Venezuela tem total interesse em normalizar suas relações com a Colômbia”. Entre outros motivos, “porque produz só 4% dos alimentos que consome. Vai passar fome”.
Do ponto de vista dos Estados Unidos, considerando os discursos anti-militaristas de Barack Obama em relação à América do Sul quando assumiu o poder, torna-se contraditório o recente anúncio do aumento da presença militar norte-americana na Colômbia. “Isso não irá melhorar a péssima imagem deixada por Bush”, teme Adam Isacson, relembrando a polarização política e o anti-americanismo, temas que, segundo ele e vários analistas colombianos, bloqueiam avanços na região.
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