Berlim vai rebatizar diversas ruas que remetem à colonização alemã na África e homenagear os ativistas da independência africana, uma nova etapa na conscientização tardia do país sobre seu passado colonial.
Após mais de dez anos de debate, os representantes de esquerda que administram o distrito de Mitte, na capital alemã, adotaram um texto na quarta-feira à noite (11/04) pedindo que os nomes de quatro ruas da região fossem substituídos.
O partido Democrata-Cristão da chanceler Angela Merkel, os liberais e o partido de extrema-direita AfD votaram contra. A “decisão final deve ser tomada em um mês”, disse Ersek, o que deve ser apenas uma formalidade.
O texto defende rebatizar ruas com os nomes de personalidades relacionadas à brutal ocupação da Namíbia (1884-1918), onde os alemães mataram entre 1904 e 1908 dezenas de milhares de membros das tribos Herero e Nama, que se rebelaram contra eles. Um massacre considerado como o primeiro genocídio do século XX.
Flickr/CC
Decisão ainda pode enfrentar resistência dos moradores
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“O distrito africano glorifica o colonialismo alemão e seus crimes. Não é compatível com a nossa concepção de democracia e é um golpe na reputação da cidade de Berlim”, diz o texto.
Localizado em Wedding, bairro de classe trabalhadora e imigrante, o “Bairro Africano” ganhou seu apelido a partir do projeto do empresário Carl Hagenbeck que, na véspera da Primeira Guerra Mundial, planejava instalar um parque que abrigasse seres humanos e animais vindos do continente africano.
A morte de Hagenbeck acabou com o projeto, mas várias ruas da região foram batizadas em homenagem ao império colonial alemão.
O texto adotado pelas autoridades de Berlim tem como alvo a Petersallee (homenagem a Carl Peters, o fundador da África Oriental Alemã, atual Tanzânia); Place Nachtigal (de Gustav Nachtigal, que anexou em 1884, Camarões e Togo); e Lüderitz Street (homenagem a Adolf Lüderitz, fundador da Sudoeste Africano Alemão, agora Namíbia). As placas serão substituídas por nomes de pessoas que lutaram contra a ocupação colonial alemã: Rudolf Manga Bell, herói da independência de Camarões; Anna Mungunda, resistente Herero; Cornelius Frederiks, chefe dos Nama; e Maji-Maji, nome dado à revolta das tribos da África Oriental contra as autoridades coloniais alemãs (1905-1907).
De acordo com o jornal berlinense Tagesspiegel, a decisão ainda pode enfrentar a resistência dos moradores, que podem se opor às mudanças no tribunal.
Essa decisão faz parte do processo de reflexão iniciado há alguns anos pela Alemanha sobre o seu passado colonial. Até o final da Primeira Guerra Mundial, o Império Alemão tinha várias colônias na África: a África Oriental Alemã se estendia pelos atuais territórios de Ruanda, Burundi e parte da Tanzânia. Já a Sudoeste Africano Alemão cobria a atual Namíbia e o oeste com os atuais Camarões e Togo.
Com informações da AFP
Publicado originalmente na RFI Brasil