O maior crime da história da indústria de agrotóxicos completa 35 anos nesta terça-feira (03/12). Cerca de 40 toneladas de Isocianato de Metilo (MIC) vazaram de uma fábrica de agrotóxicos da empresa estadunidense Union Carbide em Bhopal, na Índia. Três mil pessoas morreram na hora, e outras 15 mil nas semanas seguintes. Meio milhão sofreram intoxicações e, atualmente, entre 2 e 3 pessoas morrem por semana em decorrência daquele desastre.
O MIC entrou na corrente sanguínea das pessoas que o inalaram, causando danos aos olhos, pulmões, cérebro, e aos sistemas imunológico, reprodutivo musculoesquelético e à saúde mental. Em homenagem às vítimas de Bhopal, 3 de dezembro é considerado o Dia Internacional de Luta contra os Agrotóxicos.
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Negligência
Na unidade indiana, havia menos dispositivos de segurança e materiais de construção de menor qualidade, em comparação com as fábricas da Union Carbide nos Estados Unidos.
Nenhum dos oito executivos principais da corporação na Índia foi preso, e o presidente da multinacional, que aprovou o projeto inseguro da fábrica, morreu impune após pagar fiança.
Dezenas de milhares de crianças cujos pais foram expostos ao gás nascem até hoje com transtornos físicos e mentais.
Wikimedia Commons
Um parte da da fábrica em Bhopal, na Índia
Os sobreviventes e familiares das vítimas questionam o valor das reparações. No 35º aniversário do vazamento, eles exigem o pagamento de ao menos US$ 8 mil por pessoa, por danos à saúde. Eles também pedem que a empresa estadunidense se responsabilize pela descontaminação do solo e da água da região.
Brasil
A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida se soma às reivindicações dos sobreviventes indianos. Um texto publicado no site oficial da entidade lembra que, apenas em 2019, o governo brasileiro autorizou a liberação de 467 novos agrotóxicos. Destes, 18 são fabricados pela Dow Chemical – dona da Union Carbide.
“O governo Bolsonaro abre as portas não só para a Dow Chemical que se fundiu com a DuPont (EUA), mas outras transnacionais como Bayer/Monsanto (Alemanha), Syngenta/Chemchina (Suíça/China), e BASF (Alemanha) para que possam comercializar livremente seus produtos no Brasil. A população é exposta a cada vez mais venenos e suas misturas, numa dimensão em que a ciência ainda não tem capacidade de sequer de dimensionar os danos à saúde e ao meio ambiente”, diz o texto. “Neste 3 de dezembro, nos colocamos ombro a ombro com Bhopal, e assumimos o compromisso diante da sociedade brasileira de não permitir que uma nova tragédia aconteça em nosso país”, completa.