O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o chefe de Estado da China, Xi Jinping, abordam nesta segunda-feira (14/11) em Bali as múltiplas divergências econômicas entre os dois países e tentam estabelecer “salvaguardas” antes da cúpula de líderes mundiais do G20. Este é o primeiro encontro presencial entre os dois líderes.
A reunião de cúpula é marcada pelas tensões geopolíticas, em particular as vinculadas à guerra na Ucrânia. No início da conversa, Joe Biden e Xi Jinping declararam estar prontos para o diálogo. O presidente norte-americano afirmou que espera evitar um conflito entre Pequim e Washington. Ele pretende “gerenciar as diferenças e evitar que a competição se transforme em conflito”. Segundo Biden, “nada substitui o presencial”.
Já o líder chinês se disse “pronto” para um diálogo “sincero” sobre questões estratégicas. Os dois países devem achar “a boa direção”, completou. As divergências entre as duas maiores economias do planeta aumentaram nos últimos três anos: da concorrência comercial às polêmicas sobre a origem da pandemia de covid, passando pelas críticas aos direitos humanos na China ou a respeito do status de Taiwan.
De acordo com o pesquisador Antoine Bondaz, da Fundação pela Pesquisa Estratégica, os Estados Unidos querem mostrar que a política norte-americana no Mar de Taiwan não mudou. “O presidente Biden espera que o discurso e a pressão da China sobre Taiwan se estabilize e diminua. As tecnologias também são uma questão importante”, diz.
“Há vários anos o governo norte-americano reforça o controle de exportações de tecnologias à China. Em outubro, medidas duras foram tomadas pelos norte-americanos, especialmente no setor de semicondutores e de supercalculadores. O objetivo de Pequim é evitar que esses controles de exportação se reforcem nos Estados Unidos e que o acesso pela China a essas tecnologias não se torne impossível nos próximos anos”, declarou em entrevista à RFI.
Com as duas potências disputando influência política, econômica e militar no Pacífico, onde uma corrida armamentista acontece há vários anos, Biden quer estabelecer limites na rivalidade. O objetivo final é definir “salvaguardas” e esclarecer as “regras ao longo do caminho”.
A delegação norte-americana deseja convencer Pequim de pelo menos controlar a Coreia do Norte, após os vários lançamentos de mísseis neste ano e os temores de um teste nuclear. Xi Jinping, que adotou uma política externa mais agressiva, participa do encontro de cúpula fortalecido depois de ter sido eleito para um histórico terceiro mandato e, provavelmente, com pouco incentivo para ajudar seu principal rival.
White House/Wikimedia Commons
Biden (esq.) e Xi (dir.) se encontram antes da cúpula do G20, em Bali
O presidente chinês chegou a Bali duas horas e meia antes da reunião. Esta é sua segunda viagem ao exterior desde o início da pandemia. O governo chinês espera que o encontro entre Xi e Biden volte a colocar as relações “no caminho certo”.
“Esperamos que os Estados Unidos trabalhem em conjunto com a China, mantendo de maneira apropriada as diferenças sob controle, promovendo uma cooperação mutuamente benéfica e evitando mal-entendidos e erros de julgamento, para levar as relações EUA-China de volta ao caminho certo, para um desenvolvimento estável e saudável”, disse a porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, à AFP.
Na agenda de Xi Jinping também estão reuniões com os presidentes da França, Emmanuel Macron, da Argentina, Alberto Fernández, e com o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese.
Ausência da Rússia
O encontro bilateral pode ofuscar o início de uma reunião marcada pela guerra na Ucrânia, apesar dos esforços da Indonésia para tratar de questões como a cooperação econômica ou a mudança climática. O conflito não está oficialmente na agenda, mas suas consequências são difíceis de serem ignoradas: aumento expressivo dos preços dos alimentos e da energia, desaceleração da recuperação econômica após a pandemia e temores de recessão.
Com até 17 chefes de Estado e de Governo presentes na Indonésia, o grande ausente na mesa será o presidente russo, Vladimir Putin. A Rússia será representada pelo ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, que afirmou rejeitar a “politização do G20, a introdução de questões não relacionadas ao encontro e que deliberadamente provocam conflitos nas discussões”.
Em uma aparente mensagem a Moscou, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, defendeu em Bali que o melhor para a economia mundial é “acabar com a guerra da Rússia”. Em uma tentativa de permanecer neutra no conflito, a Indonésia driblou as pressões ocidentais para afastar Putin do evento, mas, ao mesmo tempo, convidou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que discursará por vídeo.
A reunião oficial acontecerá na terça-feira (15/11) e quarta-feira (16/11), com três sessões de trabalho concentradas na segurança alimentar e energética, saúde e transformação digital. Depois de várias reuniões prévias sem qualquer acordo pelas tensões geopolíticas, analistas consideram difícil que a reunião divulgue uma declaração conjunta dos líderes do bloco, que representa mais de 80% do PIB mundial.
O principal acordo anunciado antes do encontro é a criação de um fundo de US$ 1,4 bilhão para tratar futuras pandemias, algo que a Indonésia, país anfitrião, considera insuficiente.