O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu, nesta quinta-feira (15/02), ter realizado a transferência de R$ 800 mil aos Estados Unidos em 27 de dezembro de 2022, pouco antes de encerrar seu mandato e, também, uma semana antes dos ataques golpistas promovidos por seus apoiadores aos Três Poderes, em Brasília.
“A imprensa vem noticiando que, segundo a Polícia Federal, eu enviei em dezembro de 2022 para os Estados Unidos 800 mil reais à espera de um golpe. Enviei, sim, da minha poupança do Banco do Brasil para o Banco do Brasil América”, declarou o político inelegível de extrema direita, em vídeo, confirmando os dados obtidos pela Polícia Federal (PF) no inquérito sobre uma tentativa de golpe contra o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Dizer à nossa querida Polícia Federal que o último país do mundo onde um golpista, ditador, enviaria recurso seriam os Estados Unidos, um país democrata que respeita os tratados. E esses recursos seriam imediatamente bloqueados”, acrescentou Bolsonaro.
A transferência foi feita exatamente três dias antes de seu embarque para Orlando, na Flórida. O ex-presidente ficou e não participou da cerimônia de posse de Lula, que foi celebrada em 1º de janeiro de 2023.
O ultradireitista justificou o envio da quantia aos Estados Unidos por ter “dúvidas” em relação à política e à economia do atual governo.
“Em 2023, os brasileiros enviaram 2,3 bilhões de dólares [ao exterior], isso não é crime. Assim como eu, tinham dúvidas sobre a economia do atual mandatário de esquerda”, alegou Bolsonaro.
No entanto, os argumentos do ex-presidente entram em contradição com a investigação da PF, uma vez que, para o organismo, Bolsonaro teria feito a transferência antecipadamente para aguardar o desdobramento dos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Reprodução/Presidência da República
Bolsonaro admite envio de R$ 800 mil aos EUA antes do 8 de janeiro, mas diz que ‘não é crime’
Bolsonaro é alvo da Polícia Federal
Na semana passada, em 8 de fevereiro, agentes da PF apreenderam o passaporte de Bolsonaro no âmbito da Operação Tempus Veritatis, solicitada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O mandado de busca e apreensão e prisão preventiva teve como objetivo apurar um suposto esquema de organização criminosa que teria sido trabalhado por dezenas de aliados do ex-presidente, e possivelmente pelo próprio ex-presidente, em uma tentativa de golpe e abolição do Estado Democrático de Direito.
A PF apontou que alguns dos investigados haviam fugido do país, “retirando praticamente todos seus recursos aplicados em instituições financeiras nacionais”, destinando os bens para os Estados Unidos para se “resguardar de eventual persecução penal instaurada para apurar os ilícitos”.
Ainda de acordo com o organismo, Bolsonaro teria executado uma operação de câmbio no dia 27 de dezembro de 2022, no valor de R$ 800.000,03, afirmando possibilidade de “desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras”.
“Evidencia-se que o então presidente Jair Bolsonaro, ao final do mandato, transferiu para os Estados Unidos todos os seus bens e recursos financeiros, ilícitos e lícitos, com a finalidade de assegurar sua permanência do exterior, possivelmente, aguardando o desfecho da tentativa de Golpe de Estado que estava em andamento”, concluiu a PF.
(*) Com Ansa