O presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira (02/08) que acredita não ter falado “nada demais” ao afirmar, no começo desta semana, que sabia sobre as circunstâncias da morte de Fernando Santa Cruz, desaparecido durante a ditadura militar e pai do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.
Além de dizer, na segunda-feira (30/07) que o presidente da OAB não “ia querer ouvir a verdade” sobre o desparecimento, Bolsonaro mentiu e afirmou que Santa Cruz havia sido morto por integrantes da Ação Popular, o que documentos oficiais mostram não ser verdade.
“O que que eu falei de mais para vocês? Me respondam. O que eu tive conhecimento na época. Eu ofendi o pai dele? Não ofendi o pai dele. O que eu tive conhecimento na época, o assunto foi esse”, afirmou.
Na segunda-feira (29/07), Bolsonaro disse a repórteres que poderia contar para Felipe como Santa Cruz havia morrido.“Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade. Conto pra ele. Não é minha versão. É que a minha vivência me fez chegar nas conclusões naquele momento. O pai dele integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro.”
Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro disse que não falou ‘nada demais’ sobre pai de presidente da OAB
No mesmo dia, em uma live pelas redes sociais onde aparecia cortando o cabelo, Bolsonaro mentiu e disse que os responsáveis pela morte de Santa Cruz haviam sido os próprios militantes da Ação Popular. “Não foram os militares que mataram, não. Muito fácil culpar os militares por tudo o que acontece. Até porque ninguém duvida, todo mundo tem certeza, que havia justiçamento. As pessoas da própria esquerda, quando desconfiavam de alguém, simplesmente executavam”, disse.
A declaração de Bolsonaro vem um dia depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) solicitar que o presidente esclarecesse, se quisesse, as circunstâncias da morte de Santa Cruz. Ele disse que mandaria para o Supremo a degravação da entrevista dada os jornalistas e da live.
O presidente também afirmou que “não haveria nada disso” se não se quisesse, na época do golpe militar, “implantar o comunismo”. “Lamento todas as mortes que tiveram dos dois lados, se não tivesse aquela vontade de implantar o comunismo no Brasil não teria nada disso. Se tivessem aceitado a normalidade do que acontecia, nada teria”. A tese de que o golpe de 1964 teria sido, na verdade, um contragolpe para frear uma suposta ameaça comunista é refutada por historiadores e pesquisadores do período, mas é comumente usada para justificar a ação dos militares à época.