O presidente Jair Bolsonaro e as milícias que atuam principalmente no Rio de Janeiro são herdeiros de uma lógica pregada por ex-agentes da ditadura militar que não aceitaram a redemocratização no Brasil. Essa é a análise que faz o jornalista e cientista político Bruno Paes Manso em seu mais novo livro, A República das Milícias: Dos Esquadrões da Morte à Era Bolsonaro, lançado pela Editora Todavia.
Em entrevista a Opera Mundi, Paes Manso, que é pesquisador do Núcleo de Estudos de Violência da USP, afirmou que a ideologia de repressores que trabalharam nos porões da ditadura permanece nos grupos paramilitares do Brasil.
“Nesse contexto do combate aos grupos guerrilheiros, já vinham se formando grupos de policiais que passaram a atuar nos porões da ditadura junto aos aparelhos de repressão e que faziam parte dos esquadrões da morte e de grupos de extermínio. A ideologia por trás dessa visão de mundo, a ideia da guerra no contexto do combate à guerrilha e do papel da guerra para fazer política permanece até hoje”, afirma.
Em um trabalho que mistura análises políticas e historiográficas com reportagem investigativa, o livro de Manso evidencia como a postura de antigos agentes do regime militar, como os coronéis Carlos Alberto Brilhante Ulstra e Freddy Perdigão, deu bases ao surgimento das milícias e à visão política da família Bolsonaro.
“Todas as homenagens e menções que Bolsonaro faz ao Ulstra diz muito sobre esse processo, porque o Ulstra articula um grupo de resistência no Exército que não engole a Nova República e a redemocratização, dizendo que, mais do que a guerra vencida no campo de batalha, o grande desfio era a guerra ideológica. Eles já falavam dessa batalha cultural, o grupo do Ulstra, que dialoga depois com o Olavo de Carvalho”, diz.
Segundo o autor, “esse grupos que passam a ser mal vistos com a retomada democrática ficam escanteados e vão trabalhar com o jogo do bicho e a relação do jogo do bicho com esses policiais é fundamental para dar bases ao surgimento das milícias”.
A herança que Jair Bolsonaro carrega, segundo Manso, é “um discurso muito próximo do que seria o discurso miliciano”, ao surgir na política “criticando a Nova República e o sistema democrático”.
“Bolsonaro sempre apela à violência paramilitar como uma forma de se contrapor ao regime democrático. Além dessa defesa ideológica da violência paramilitar como alternativa ao Estado de Direito 'Comunista', que é a forma como ele pintava a Nova República, no núcleo duro dos escritórios da família trabalhavam pessoas que tinham vínculos diretos com as milícias”, afirma o autor.
Veja a entrevista na íntegra: