O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, fez duras críticas à postura hostil com que o governo do presidente Jair Bolsonaro trata o país vizinho e destacou sua confiança nas próximas eleições brasileiras para reverter o que chamou de “tragédia histórica”.
“Depende do povo, se não forem capazes de se unir será doloroso, porque não será Bolsonaro, mas um candidato do estilo de [Mauricio] Macri ou [Sebastián] Piñera, e vai continuar o desastre. Porém, eu confio plenamente no povo norte-americano, para colocar fim ao imperialismo, e no brasileiro, para reverter essa tragédia histórica que é Jair Bolsonaro”, disse.
O chanceler, que ofereceu uma entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira (07/12), ainda afirmou que não se sente capaz de avaliar o governo do presidente brasileiro em vista da “tragédia ideológica e institucional” de seu mandato.
“Seu governo é uma tragédia em todos os âmbitos para o povo. Estou certo de que Bolsonaro não vai ganhar as próximas eleições. Ele não passará de uma mancha, uma lembrança ruim”, disse.
Arreaza ainda falou sobre as relações estreitas que o presidente brasileiro estabeleceu com o governo de Donald Trump e lamentou que a política externa brasileira tenha se tornado hostil contra Caracas.
“Na grande empresa que Trump comanda, alguns precisavam de uma promoção, então quem mais atacava a Venezuela mais subia de cargo. Bolsonaro caiu nessa e é uma lástima porque nunca tivemos relações de hostilidade com o Brasil. Nunca havíamos vivido a organização de planos militares contra a Venezuela, o refúgio a militares venezuelanos que tentaram matar o presidente Nicolás Maduro. Isso nunca foi visto antes” afirmou.
Instituto Simón Bolívar
‘Governo Bolsonaro é uma tragédia em todos os âmbitos para o povo’, diz Arreaza
O ministro venezuelano também criticou duramente as posições do chanceler brasileiro, Ernesto Araújo. Arreaza voltou a dizer que seu homólogo precisava se acalmar e chegou a sugerir que o ministro fosse a um “psiquiatra”.
“Outro dia eu mandei ele tomar chá de moringa com valeriana, não sei se ele tomou, mas se não tomou a única coisa que vai lhe restar é ir a um psiquiatra que o receite psicotrópicos, mas isso tem mais efeitos colaterais e fico preocupado com sua saúde”, completou.
União regional e imperialismo
Outro tema abordado pelo chanceler venezuelano durante a coletiva foi a integração entre países da América Latina para conter medidas coercitivas impostas pelos EUA.
Para Arreaza, a política externa da região latino-americana deve trabalhar para “recuperar nossos processos de união, como a Unasul”, adiantando que” é possível que, no próximo ano, tenhamos correlação de forças para recuperar esse órgão”, que está esvaziado de poder desde 2019.
Sobre as sanções norte-americanas contra a Venezuela, o ministro disse que não há escapatória senão enfrentar as restrições e destacou o momento da pandemia como um agravante no contexto de bloqueio econômico vivido pelo país.
“Nos momentos de maior dificuldade, pensamos que o imperialismo norte-americano e europeu teria o gesto de flexibilizar as sanções, mas não flexibilizaram, pelo contrário, impuseram novas. Nós vimos a pior face do capitalismo durante a pandemia”, disse.
(*) O repórter viajou a Caracas a convite do Instituto Simón Bolívar.