O embate entre os governos do Brasil e da França, que começou com a questão da Amazônia e resvalou para insultos pessoais por parte dos representantes brasileiros, é assunto debatido não só pela grande imprensa francesa nacional, mas regional também.
“Se a estupidez e a irresponsabilidade tivessem um prêmio Nobel, ele seria indiscutivelmente dado a Jair Bolsonaro, apesar da forte concorrência atualmente no cenário internacional em tempos de pobreza intelectual”, diz o jornal L’Union, de Reims.
Em editorial, o jornal Charente Libre diz que para Emmanuel Macron “enfrentar o Trump brasileiro é bem menos arriscado que criticar o presidente da primeira potência mundial, e assim se apresentar como o defensor do clima. Criticar Bolsonaro permite ao mesmo tempo falar mal do modelo norte-americano, que apoia o brasileiro abertamente, sem atacar [Trump] de frente. Essa foi a estratégia de início de mandato que não deu certo”.
Já o Courrier Picard, opina que, “ao condicionar o tratado comercial entre a União Europeia e o Mercosul com exigências ambientais, e principalmente ao respeito ao Acordo de Paris, Emmanuel Macron ganhou parte da opinião pública e assim pressiona Bolsonaro. Se o brasileiro quiser exportar suas mercadorias, precisa ceder às exigências da Europa. Ponto para Macron, que ao mesmo tempo se livra de um tratado indigesto e que divide”. O editorialista acrescenta que “Bolsonaro não para de gritar, mas líderes populistas devem ser combatidos de frente, insistindo sobre as consequências de seus atos”.
Marcos Corrêa/PR
“Se a estupidez e a irresponsabilidade tivessem um prêmio Nobel, ele seria indiscutivelmente dado a Jair Bolsonaro’, diz L’Union
Estratégia errada de Bolsonaro
O editorialista do Sud-Ouest lembra que o presidente francês “disse claramente que uma floresta tão importante para o clima mundial e compartilhada por nove países – incluindo a França, na Guiana – poderia ter um estatuto internacional, o que foi interpretado como uma bandeira vermelha para o nacionalismo brasileiro, do qual Bolsonaro é o representante”. Para “apagar o fogo que ameaça sua popularidade, Bolsonaro deveria restaurar uma política de proteção ambiental, para a qual nenhum apoio internacional seria desprezível”, acrescenta.
Segundo La Presse de La Manche, “a tensão criada, em sua origem, por Bolsonaro e seus insultos à França são no mínimo medíocres, inadmissíveis e preocupantes”. Para resolver a situação, “bastaria chamar a Paris nosso embaixador do Brasil, para acalmar o jogo e só retomar o diálogo quando o senhor Bolsonaro sair de sua crise de histeria”, acrescenta.