A poucas semanas da reunião de cúpula do G-20, Brasil e Argentina anunciaram que vão levar ao encontro uma postura conjunta de combate à crise, defendendo investimento em infra-estrutura e incentivo ao crédito para nações em desenvolvimento, entre outras medidas.
A reunião do G-20 (grupo de países ricos e principais emergentes) será realizada no dia 2 de abril, em Londres. Hoje, durante encontro empresarial em São Paulo, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner deixaram por algumas horas os assuntos bilaterais de lado e se focaram na arquitetura de um posicionamento em bloco perante a comunidade internacional.
“Atuaremos de maneira coordenada e com a autoridade dos que não sucumbiram ao canto de sereia do pensamento único conservador. Pela primeira vez em uma reunião do G-20, dois países em desenvolvimento vão chegar com mais autoridade moral do que os países desenvolvidos”, disse o presidente brasileiro. Lula afirmou que Brasil e Argentina não serão parte da crise, e sim “parte da solução”.
“Estou convencida de que podemos hoje pleitear no G-20 qual o modelo de desenvolvimento que o mundo precisa. É necessária uma profunda reforma”, declarou Cristina.
“A cada dia, fica mais claro que o principal desafio que enfrentamos é a falta de recursos para o financiamento do investimento, da produção e do consumo”, completou Lula.
Para compensar a falta de crédito internacional, os ministros da Fazenda da Argentina, Juan Carlos Pezoa, e do Brasil, Guido Mantega, devem se reunir na próxima segunda-feira para tentar ativar as operações do Banco do Sul, criado por iniciativa da Venezuela para fomentar projetos sociais e de infra-estrutura na região.
Brasil e Argentina falaram em sintonia hoje, mas nem sempre isso ocorre quando chega a hora de negociar. A última tentativa de acordo da Rodada Doha, em que os países em desenvolvimento pleiteiam maior acesso ao mercado agrícola do mundo rico, fracassou quando o Brasil decidiu concordar com uma proposta da OMC (Organização Mundial do Comércio), que contrariava a posição defendida pelo bloco em desenvolvimento. A Argentina se retirou da mesa de negociações criticando a delegação brasileira.
Protecionismo
Lula e Cristina também comentaram as novas barreiras tarifárias impostas pela Argentina a produtos brasileiros, de forma conciliadora.
“Mais do que liberalização comercial, buscamos uma integração regional. Temos que trabalhar a definição de preços equivalentes, preços justos para que a economia de um país não sufoque a economia de outro”, disse Lula. “Protecionismo é quase uma religião. Quando acontece qualquer coisa, todo mundo quer defender seu país”.
Cristina defendeu sua atuação, lembrando que a “grande” diferença estrutural entre os dois países pede que economias menos desenvolvidas, como a argentina, recorram a mecanismos de proteção. “As políticas tomadas devem visar uma igualdade para as economias que têm menos desenvolvimento, menos volume, e têm um déficit estrutural em sua balança comercial, como o déficit que a Argentina tem com o Brasil”.
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O comércio bilateral caiu 40% no primeiro bimestre de 2009 em relação ao mesmo período de 2008. A balança comercial é deficitária para a Argentina, em 207 milhões de dólares.
Obama
Enquanto contava suas impressões do encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na Casa Branca, no sábado passado, Lula fez a platéia gargalhar. “Sem nenhum preconceito contra ninguém, mas ele é o primeiro presidente eleito nos EUA em muitas décadas que parece com a gente. Se ele vai fazer o que a gente acredita que ele vá fazer, eu não sei. Você (Cristina) vai encontrar com ele na Cúpula da Américas, você vai ver: é a primeira pessoa com cara de gente. Falando humildemente, falando da América do Sul, da América Latina. Eu já rezei mais pelo Obama do que por mim mesmo a vida inteira”.
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