Após a ditadura em Honduras ter estabelecido prazo de dez dias para que o Brasil defina o status do presidente deposto, Manuel Zelaya, na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, o governo brasileiro estuda quais estratégias serão adotadas diante do agravamento da crise política e qual deve ser a reação da diplomacia diante do ultimato de retirar o brasão da sede da representação diplomática.
Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência da República para Assuntos Internacionais, disse hoje (28) a jornalistas que a solução adotada pelo Brasil em caso de hostilidade maior por parte do governo golpista de Roberto Micheletti será a de acentuar as sanções multilaterais. Segundo ele, o Brasil já está fazendo uma retaliação multilateral e permanecerá neste caminho.
“Nós suspendemos financiamentos, toda a ajuda financeira, passamos a exigir vistos para eles. É claro que aí nós procuraríamos acentuar sanções multilaterais, e é um país que não tem condições de se sustentar por muito tempo sozinho. Ele já está numa situação bastante difícil”, pontuou.
Garcia afirmou também que os Estados Unidos podem ajudar a resolver o impasse, adotando mais restrições a Honduras, o que, segundo ele, “teria um impacto muito mais forte”, já que este é o maior parceiro comercial do país caribenho.
Apesar das pressões, Marco Aurélio Garcia acredita que o governo golpista não invadirá a sede da embaixada.“E se invadir ou realizar qualquer ato de hostilidade maior, evidentemente que ele [Micheletti] estará exposto às sanções do Conselho de Segurança da ONU”.
De acordo com o deputado federal José Genoíno (PT-SP), os planos do governo brasileiro incluem pressionar e isolar o governo golpista para que a democracia seja restituída. Ele diz que o Brasil vai manter a atual estratégia diplomática para tentar resolver o impasse. “O Brasil está agindo democrática e politicamente; e o Brasil só agirá democrática e politicamente”, afirmou o deputado ao Opera Mundi.
Apesar do aumento da repressão nas ruas e das dificuldades de negociação, Genoíno descarta a possibilidade de invasão à embaixada brasileira, pois, segundo o deputado, isso significaria ampliar o isolamento diplomático de Honduras.
Intervenção arriscada
Parte dos políticos brasileiros da oposição critica a atitude do Itamaraty de proteger o presidente deposto na embaixada brasileira e considera arriscada a posição da diplomacia nesta crise política.
O senador José Agripino (DEM-RN) diz que é um erro a embaixada interferir em assuntos internos de Honduras. “O Brasil entrou na briga com espaço físico, se expôs a essa situação e agora está num impasse difícil de sair”, afirmou.
O senador Romeu Tuma (PTB-SP) acredita que, ao permitir que Zelaya, abrigado no prédio da embaixada, convoque a população para protestos e mobilizações, o Brasil assume responsabilidade pelos conflitos violentos em Tegucigalpa.
“Tirou toda a discussão da esfera política, para discutir o retorno dele [Zelaya], em prol praticamente do início de um conflito que pode virar uma guerra civil, e o Brasil acabar sendo responsabilizado pelas mortes que houver, tendo em vista que parte de dentro da embaixada brasileira todas as ordens para os conflitos de rua”, disse Tuma em entrevista ao jornal O Globo.
Segundo Marco Aurélio Garcia, o governo brasileiro já pediu ao presidente deposto para se abster de fazer declarações enquanto estiver na embaixada, para evitar conflitos.
Retorno imediato
O professor Carlos Federico Domingues Ávila, doutor em História pela UNB (Universidade de Brasília), diz que Honduras está cada vez mais isolado e que o governo golpista está tentando ganhar tempo para que o problema seja resolvido com eleições. “O presidente Zelaya é legítimo e deve retornar de forma incondicional. Somente dessa forma o caminho democrático será conformado. Uma significativa parcela da população está insatisfeita com o golpe”, afirmou Ávila em entrevista à rádio CBN.
“Estamos diante de um processo de democratização de um presidente legítimo, que não pode ser ignorado ou sacrificado em Honduras”, concluiu Ávila.
O diretor do Observatório Político Sul-Americano do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), Marcelo Coutinho, afirma que o Brasil deve ser mais firme e racional nas negociações, “porque parece que a irracionalidade tomou conta do governo hondurenho”, diz ele referindo-se a Micheletti. Para ele, a possibilidade de uma invasão à embaixada brasileira existe.
Cerco
Desde a última segunda-feira (21), a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa está cercada por militares que proíbem até o acesso de brasileiros. De acordo com o Itamaraty, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou Zelaya a permanecer na embaixada em Tegucigalpa o tempo necessário para restabelecer a ordem.
No prédio, há superlotação, falta de alimentos, água e de produtos de limpeza que complicam a permanência de Zelaya, familiares, militantes, jornalistas e funcionários da embaixada no local.
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