Depois de passar uma última noite no Palácio de Buckingham, o caixão com o corpo da rainha Elizabeth II segue na tarde de quarta-feira (14/09) para Westminster Hall, a ala mais antiga da sede do Parlamento britânico. A procissão solene irá atravessar o centro de Londres. A pompa e o custo do funeral são criticados por 20% dos britânicos que se declaram contra a monarquia, principalmente em meio à grave crise econômica que o país atravessa.
Durante cinco dias, a partir de 17h nesta quarta até as 6h30 de segunda-feira (19), data do funeral de Estado, os britânicos poderão se despedir da soberana, que exerceu o cargo por mais de 70 anos. O velório em Westminster Hall ficará aberto 24 horas, mas será preciso paciência para enfrentar as longas filas, que podem se estender por quilômetros.
Desde segunda-feira, várias pessoas já aguardavam diante do Parlamento, 48 horas antes da abertura do local para o público. “Eu disse às minhas filhas que, definitivamente, vou apresentar meus sentimentos presencialmente. Estou feliz por estar na fila, não importa o tamanho”, disse Vanessa Nanthakumaran, uma das primeiras pessoas à espera da abertura do velório.
Após a morte da rainha, o período de luto e reflexão continuam no país. Mas para alguns, as cerimônias estão custando muito caro neste momento de crise. Os mais inconformados decidiram boicotar o funeral até na televisão.
Robert, um morador dos subúrbios de Londres que se identifica como republicano, considera os gastos excessivos: “É muito perturbador ver tudo isso quando as pessoas estão lutando para pagar suas contas”, disse ele à reportagem da RFI. “Não precisamos de toda essa pompa e circunstância, esses cortejos, essas viagens reais por todo o país. Algo mais modesto teria sido suficiente, como por exemplo, nas monarquias escandinavas ou na Holanda”, avalia Robert.
Rian (Ree) Saunders/Flickr
Velório em Westminster Hall ficará aberto 24 horas, filas podem se estender por quilômetros
“A monarquia é boa para os negócios”
O funeral de Elizabeth II será provavelmente o mais caro da história. Da mesma forma que defensores do sistema republicano criticam a ostentação em tempos de vacas magras, monarquistas não veem nada de escandaloso nesses rituais. “Sim, isso custa dinheiro, a família real custa dinheiro. Mas quando você pensa no que a monarquia nos deu, a rainha em particular… Acho que não é muito a ser pago”, opinou Mark, um morador de Londres.
Um argumento recorrente dos partidários da monarquia é que, se por um lado, a família real custa caro aos contribuintes – € 50 milhões por ano –, ela também atrai o turismo, que alimenta a economia britânica. Esta é a avaliação de Andy, um empresário que se apresenta como um monarquista moderado. “É uma imagem de marca conhecida por turistas em todo o mundo e que é utilizada como argumento de venda para as empresas britânicas”, afirma. “A monarquia não é só turismo, é também boa para os negócios em geral”, diz ele.
Críticos ou não da monarquia, os britânicos concordam em um ponto: o novo rei terá de reduzir os gastos com o estilo de vida da família real. Mas isso será após o funeral de 19 de setembro, dia em que o país irá parar para dar o último adeus à rainha. O governo decretou feriado nacional para a cerimônia que será realizada na abadia de Westminster. Depois, o corpo de Elizabeth II será enterrado no Castelo de Windsor. No domingo está previsto um minuto de silêncio às 20h (16h de Brasília).
Funeral pode custar 0,8% do PIB do trimestre
Em agosto, a inflação atingiu 9,9% no acumulado de 12 meses no Reino Unido, depois de 10,1% em julho, algo que não acontecia no país havia 40 anos. Os preços da energia subiram quase 300% desde outubro de 2021. Este aumento é tão dramático que milhares de britânicos uniram forças em um movimento “Não pague” e ameaçam não saldar a próxima conta de luz.
Segundo avaliação do Observatório Francês de Conjuntura Econômica (OFCE), o funeral de Elizabeth II poderá provocar uma perda de cerca de 0,8% no PIB britânico, no atual trimestre. O feriado terá impacto negativo no ritmo da economia. Para chegar a esta estimativa, o OFCE comparou com os prejuízos gerados pelo Jubileu da rainha, em junho passado, quando o governo também decretou feriado nacional.