As eleições regionais no Iraque, realizadas no dia 31 de janeiro, revelaram possíveis tendências para os próximos quatro anos na política do país, deixando nos analistas a impressão de terem sido mais seculares que as de 2005. A influência religiosa parece ter sido menor.
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Minorias votam nos partidos curdos
A síria Rime Allaf, especialista em Iraque do instituto Chatam House, de Londres, disse que muitos eleitores não basearam o voto em princípios religiosos. “Mais pessoas querem tomar medidas contra o que elas temem ser a volta de lideranças religiosas. As minorias pensam ‘nós tivemos Saddam por 40 anos, e agora nós temos os xiitas’ e querem se precaver. Forças políticas muito poderosas estão tomando forma no Iraque, muitas delas associadas ao primeiro ministro, e os partidos no poder parecem estar ganhando força. Creio que poderemos enxergar uma tendência a partir das eleições para o parlamento em dezembro”.
O norte-americano Joel Wing, pesquisador e editor do blog Musings on Iraq, acredita que as divisões políticas e étnicas estejam se tornando mais importantes do que as essencialmente religiosas.
“Sunitas votaram em partidos sunitas, xiitas em partidos xiitas e curdos em curdos. As divisões ainda existem, mas agora elas são políticas. No entanto, as campanhas que funcionaram não se focaram nisso, e sim nas necessidades do país. Agora que a segurança melhorou, as pessoas querem empregos, serviços, um governo melhor, desenvolvimento para o país, liderança. Não ter milícias e insurgentes lutando é ótimo, mas após alguns meses nem mesmo isso será bom se as pessoas não tiverem empregos, dinheiro, eletricidade etc”, explicou ao Opera Mundi.
Faltam limites
Apesar do otimismo com a secularidade das eleições, revelado em diversas reportagens e análises veiculadas pela imprensa no mundo todo, o processo democrático no Iraque ainda tem falhas graves, de acordo com Wing, que aponta dois problemas principais. Um deles é a falta de leis que equilibrem ou limitem o poder.
“O Parlamento e os Conselhos das Províncias não têm como parar o primeiro-ministro, e isso é um problema muito grave, porque pode levar o Iraque a se tornar cada vez mais autocrático. [Nouri al-] Maliki [o premiê] tomou várias decisões contra a vontade dos conselhos, como a formação de conselhos tribais e se livrar de inspetores gerais, e não há nada a ser feito. A única limitação real é o direito do Parlamento de remover o primeiro-ministro após lhe darem um voto de desconfiança”, explica o pesquisador.
A segunda falha, segundo ele, é o fato de um país estrangeiro, os Estados Unidos, terem um papel muito forte na decisão sobre quem será eleito. “Ele colocou no poder o primeiro governante depois da guerra, Iyad Allawi, e após a primeira rodada de votações em 2005, ajudou a tirar do poder o primeiro-ministro eleito, Ibrahim al-Jaafari, por acreditar que era muito sectário. Maliki enfrentou três votações do Parlamento para retirá-lo do cargo, mas permaneceu no poder porque os EUA fizeram um forte lobby”.
Nos Estados Unidos, exemplifica Joel Wing, toda vez que o Iraque vai às urnas, as pessoas elogiam. “Mas só o voto não faz uma democracia. O Egito, por exemplo, tem eleições, mas isso não afeta em nada a forma como o presidente [Hosni] Mubarak governa. Isso também poderia acontecer no Iraque”.
Vitória do governo
Os partidos ligados ao governo receberam um grande número de votos nas eleições. A Coalizão do Estado de Direito, do primeiro-ministro Nouri al-Maliki, teria saído vitoriosa em nove de 14 províncias. O resultado, embora ainda não esteja na página da Comissão Eleitoral Independente do Iraque, já foi divulgado por alguns veículos de comunicação.
Confira os resultados parciais.
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