A investigação sobre o assassinato de Boris Nemtsov, um dos maiores opositores do governo do presidente Vladmir Putin, segue sem uma linha condutora, três dias após o crime. Até o momento nenhuma pessoa foi detida, mas, de acordo com o jornal russo Kommersant, as câmeras de segurança do local estavam “desligadas para manutenção”, possivelmente anulando assim provas que poderiam ser fundamentais para a resolução do caso. A Prefeitura de Moscou, no entanto, garante que tudo funcionava normalmente.
Nemtsov foi assassinado na sexta-feira sobre uma ponte em Moscou, nas proximidades do Kremilin, um local de alta vigilância. O líder opositor organizava um protesto, que foi realiizado neste domingo (01/03) contra a guerra na Ucrânia, e havia concedido também na sexta uma entrevista na rádio na qual criticou a política de Putin no país vizinho.
Agência Efe
Nemtsov foi morto com quatro tiros enquanto caminhava com a namorada
Hoje, o jornal Kommersant, com base em fontes anônimas do ministério do Interior, informou que o assassinato não foi filmado porque as câmeras do circuito fechado não estavam funcionando no momento devido a manutenção.
A versão contrasta com o que havia sido divulgado pela porta-voz do departamento municipal de tecnologia informática, Yelena Novikova, que supervisiona as câmeras de toda a cidade. De acordo com ela, todas as câmeras funcionavam normalmente na noite da morte de Nemtsov e acrescentou que autoridades federais também mantêm câmeras nas proximidades do Kremilin. Estas não estão sob o controle do organismo que chefia.
Até o momento, no entanto, não foi apresentada nenhuma imagem. Veículos internacionais divulgaram cenas de uma câmera que, apesar da distância e da qualidade das imagens, estava na região, de instantes antes do assassinato de Nemstov, mas não é possível identificar nem a pessoa que supostamente foge, nem o carro da fuga. Investigadores ofereceram US$ 50 mil a quem tiver informações sobre o caso.
De acordo com o jornal The Telegraph, as imagens sugerem que o assassino estava à espreita em uma escada na ponte em uma ação bem coordenada. Após o ato, o assassino teria ingressado em um carro. O momento da ação, no entanto, não é registrado porque um carro de limpeza impede a gravação da imagem.
Testemunha
A modelo ucraniana Anna Durítskaya, de 23 anos, namorada de Nemstov, que o acompanhava no momento do assassinato, disse nesta segunda ao canal de televisão russo Dozhd que não viu o momento do disparo. “Não o vi, já que tudo ocorreu pelas minhas costas”, afirmou. Ela está proibida de deixar a Rússia.
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A única coisa que ela diz ter podido registrar é que o carro da fuga tinha cor clara, mas não soube precisar a marca ou a placa do veículo, nem como o autor dos disparos entrou no carro.
Os motivos para o assassinato de Nemstov também seguem sem esclarecimento. Enquanto a oposição defende que o crime teve motivações políticas, uma vez que ele havia denunciado sofrer ameaças, também está sendo cogitado crime passional – o que Durítskaya nega.
Agência Efe
Mesmo sob baixas temperaturas, moscovitas caminham com fotos de Nemtsov e faixas de protesto pela Praça Vermelha, ao lado do Kremlin
Uso político
Nesta segunda (02/03), o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, denunciou, em discurso no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o que o governo de seu país considera ser tentativas de utilizar com “fins políticos” o assassinato de Nemtsov e classificou tais ações como “blasfêmias” e classificou crime como “hediondo”.
“Esse crime vil será investigado com todo o vigor da lei para garantir que os responsáveis sejam julgados”, afirmou Lavrov, que ressaltou o compromisso do presidente Putin com a resolução do caso.
O chanceler francês, Laurent Fabius, por sua vez, classificou o crime como “assassinato repugnante” e observou que “não é bom ser um dirigente opositor na Rússia”.
No sábado, alguns líderes mundiais, entre eles Petro Poroshenko (Ucrânia), Barack Obama (EUA), Angela Merkel (Alemanha), David Cameron (Reino Unido) e François Hollande (França), condenaram o assassinato.
No domingo (01/03), milhares de russos fizeram uma passeata em memória de Nemtsov. Com cartazes como “je suis Boris”, “eu não tenho medo” e “a propaganda mata”, a população marchou pela capital pedindo justiça.