O Canadá voltou a atenção para o Pólo Norte. Preocupado com ações de Rússia, Dinamarca, Noruega e até do vizinho Estados Unidos, o governo canadense criou um plano estratégico para reforçar a soberania do país em seu imenso, porém disperso, território na região do Ártico, composto por grandes ilhas praticamente inabitadas.
Sob o lema “Nosso Norte, Nossa Herança, Nosso Futuro”, o plano envolve iniciativas econômicas, administrativas e principalmente militares. Fazem parte do projeto o investimento de 720 milhões de dólares canadenses (cerca de 1,3 bilhão de reais) para a aquisição de um novo navio quebra gelo, o lançamento de um novo satélite de monitoramento espacial da região, a criação de um novo centro de treinamento militar e a expansão do efetivo das tropas canadenses no Ártico.
O plano, anunciado no final de julho, também prevê a implementação de novas regras para controle do uso da água e uma nova regulamentação para tráfico de navios na região, a qual pretende tornar obrigatório o cadastro das embarcações que navegarem por águas canadenses. Tudo isso para reforçar o interesse do país por uma área de grande potencial energético e relevante para os rumos do comércio internacional.
Com o eminente derretimento das geleiras polares causado pelo aquecimento global, uma viagem de navio entre a Ásia e a Europa, por exemplo, poderia ser reduzida em até 5 mil quilômetros através de rotas que cruzariam o Pólo Norte.
Nick Cobbing/EFE
Prioridade
A atenção do governo do Canadá para a questão é prioritária. Dias após anunciar o plano estratégico para o Ártico, o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper, acompanhou por uma semana exercícios militares envolvendo 700 soldados da Marinha, Aeronáutica e do Exército realizados na região.
Em discursos durante a viagem oficial, Harper destacou a importância da presença militar canadense. “Todos sabemos que atualmente essa região é muito importante”, disse ele. “Nós estamos atentos para defendê-la como nunca tivemos antes”.
Concorrentes
A Rússia é a principal concorrente canadense pelo domínio militar do Ártico. Desde os anos 80, os russos realizam expedições ao Pólo Norte. Em 2007, em um ato simbólico, eles cravaram uma bandeira no fundo do Oceano Ártico, a 4.200 metros de profundidade, para reforçar a presença do país no local.
No mês passado, a Marinha russa também fez exercícios com submarinos próximos à costa oeste canadense. A operação causou alerta nas Forças Armadas do Canadá, que foram deslocadas para acompanhar as operações.
A Noruega também tem investido em ações militares no Ártico. Há dois anos, o país comprou 48 jatos militares e realizou exercícios com 7 mil soldados na região. Já Dinamarca e Estados Unidos anunciaram planos para o Ártico neste ano.
Conflito
A corrida militar preocupa analistas. O professor aposentado da Universidade de Toronto e um dos especialistas sobre geopolítica do Ártico, Franklyn Griffiths, afirma que a movimentação das tropas mostra que a questão Pólo Norte pode se transformar em conflito entre nações no futuro.
“Enquanto todos se movem, está sendo construída uma espécie de desentendimento sobre quem é o dono da região”, disse Griffiths, em entrevista à agência de notícias Canadian Press. “Esse desentendimento pode se acumular e causar um conflito envolvendo a posse do Ártico”.
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