A remota e gelada cidade de Iqaluit, no ártico canadense, recebeu neste mês os chefes das sete economias mais influentes do mundo. Isolados em um hotel e longe de qualquer protesto, ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais dos países do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) discutiram por dois dias a recuperação do mercado mundial depois da crise de 2008.
Em um encontro rotineiro, políticos e economistas debateram reformas, regulação bancária e equilíbrios das contas de governo. Mais importante do que isso, porém, eles realinharam posições e deram mais força a um processo de reestruturação do G7 e do G8 após o enfraquecimento dos grupos causado pela crise mundial. Processo este, aliás, no qual o Canadá é cenário e também ator relevante.
O país ocupa a atual presidência do G7 e do G8 (grupo que reúne os países do G7 mais a Rússia). É também sede das próximas reuniões do G8 e do G20 (grupo dos 20 países mais ricos do mundo, incluindo o Brasil), que serão realizadas em junho nas cidades de Muskoka e Toronto, respectivamente.
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Além disso, o Canadá é uma das nações que mais tem se manifestado a favor da manutenção dos grupos seletos do G7 e G8 como a principais instâncias de governança global. Isso, apesar de toda pressão que os países em desenvolvimento têm feito para uma maior projeção do G20 nas discussões de interesse mundial.
Coesão
Em seu discurso no Fórum Econômico de Davos, o primeiro-ministro canadense Stephen Harper defendeu que o G8 mantenha-se como líder nas discussões relacionadas à segurança mundial devido à convergência de idéias entre os seus membros. “Esses problemas [de segurança mundial] demandam a cooperação de amigos e aliados de mesma opinião. O G8 deve mostrar liderança”, afirmou.
O ministro das Finanças do Canadá, Jim Flaherty, também afirmou que a proximidade entre as políticas econômicas dos membros do G7 facilita o refortalecimento do grupo. “O G7 tem um futuro significante. Nós somos um grupo pequeno e nos conhecemos muito bem”, disse em entrevista coletiva após a reunião de Iqaluit.
Interesses
A posição do Canadá não surpreende a diretora de pesquisas sobre o G8 da Universidade de Toronto, Jenilee Guebert. Em entrevista ao Opera Mundi, a pesquisadora reconheceu o esforço dos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, para a inclusão de novos atores nas instâncias de decisões globais. Porém, ela não acredita que os países ricos aceitaram novas opiniões facilmente. “Há certos assuntos que, para o Canadá e os países ricos e democráticos, não convêm serem debatidos no G20”, disse ela.
Um desses assuntos, segundo Guebert, é a segurança, mais precisamente as ameaças impostas por Coréia do Norte e Irã. Ela explica que, entre os países do G7, por exemplo, não há divergência quanto à necessidade de sanções ou retaliações a iniciativas nucleares dos dois países.
Essa unanimidade, porém, não existe no G20. Por isso, os membros do G8 evitam discutir o tema com os emergentes. “A China [membro do G20] tem fortes relações com a Coréia do Norte, e a Arábia Saudita [do G20] tem um governo apoiado pelo islamismo, assim como o Iran”, apontou Guebert.
Guebert diz que, quanto à economia, os países do G7 também têm opiniões parecidas. Por isso, eles continuam a se reunir e traçar planos conjuntos. “O G20 é hoje a mais importante instância econômica. Porém, os países do G7 seguem alinhando posições e tendo peso decisivo nas reuniões com os emergentes.”
Mesmo assim, Guebert acha que o peso dos países em desenvolvimento nas discussões tende a crescer. Para ela, é só uma questão de tempo até que o G20 torne-se o grupo de mais países mais influente do mundo, em todas as áreas. “Isso deve ocorrer dentro de dois ou três anos, mesmo sem a ajuda dos países do G7 e G8.”
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