A Argentina vive nesta quarta-feira (24/01) a primeira greve geral contra o presidente Javier Milei, político de extrema direita que assumiu o poder no país há apenas 45 dias.
Centenas de milhares de pessoas se aglomeram em frente ao Congresso do país, em uma concentração que remete às grandes celebrações por títulos de futebol de algum clube grande ou da seleção argentina.
O clima futebolístico passa também pelo uso de alguns cantos que costumam ser usados pelas torcidas locais nos estádios, em versões adaptadas para ironizar o presidente de extrema direita e seus eleitores.
Um vídeo mostra um grupo de pessoas no metrô de Buenos Aires, que estava a caminho do ato no Congresso, parodiando o famoso canto “y ya lo es, y ya lo es, el que no salta es un inglés” (“é agora, é agora, quem não pula é inglês”) usado especialmente nos jogos da seleção argentina, e também para reforçar sua rivalidade com os britânicos pela disputa das Ilhas Malvinas, mas desta vez ironizando os eleitores do atual presidente: “y ya lo es, y ya lo es, el que no salta, votó Milei” (“é agora, é agora, quem não pula votou no Milei”).
A adesão à greve era grande desde o início da manhã, quando os argentinos lotaram ônibus, metrôs e trens em direção ao ponto de encontro.
A correspondente de Opera Mundi na Argentina, @fernandapaixaov, registrou a ida de diversos militantes ao ato. pic.twitter.com/8jNcKAO2BN
— Opera Mundi (@operamundi) January 24, 2024
Em outro vídeo, também no metrô da capital argentina, os manifestantes usam um canto que, no futebol, é utilizado para provocar as torcidas adversárias, mas que nessa versão direciona palavrões ao mandatário do país e à sua irmã Karina Milei, e reclama que, graças às suas políticas “nós nos cagamos de fome”.
A alusão, neste segundo caso, é ao pacote de ajuste com mais de 300 medidas com o qual o governo pretende fazer uma forte redução do papel do Estado na economia do país, com cortes profundos especialmente nos investimentos sociais e nos subsídios aos serviços públicos.
Um terceiro vídeo, que mostra a manifestação já nas ruas adjacentes do Congresso, mostra um grupo usando um canto que diz “ole ole ole olá, con este paro no va a alcanzar necesitamos a la lucha nacional” (“olê olê olê olá, com esta greve não vai bastar [para frear o projeto de Milei] precisaremos de uma luta nacional”).
Manifestantes em Buenos Aires entoam cânticos de torcidas em jogos de futebol, mas em paródias contra o governo Milei.
“Olê olê, olê olá, com esta greve não vai bastar, precisaremos de uma luta nacional”, cantam.
Créditos: @fernandapaixaov. pic.twitter.com/ZADiF5Kp9V
— Opera Mundi (@operamundi) January 24, 2024
Neste outro momento, em frente ao Congresso Nacional, em Buenos Aires, os manifestantes entoam a palavra de ordem: “a Pátria não se vende”.
Esta quarta-feira (24/01) é dia de greve geral na Argentina contra as reformas neoliberais de Javier Milei. pic.twitter.com/2CIqnXZAV4
— Opera Mundi (@operamundi) January 24, 2024
Fernanda Paixão
Centenas de milhares de pessoas participam do ato em frente ao Congresso argentino, em Buenos Aires, contra projeto de ajuste de Milei
Trâmite legislativo
A greve geral na Argentina foi convocada pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), maior central sindical do país, e teve início por volta das 12h (hora local, que é a mesma de Brasília).
O objetivo dos organizadores é pressionar o Congresso a votar contra a Lei Ônibus, razão pela qual o ato se realiza em meio ao trâmite da lei, que a Casa Rosada vinha tentando aprovar com urgência, após a Justiça proibir Milei de impor o pacote a partir de um decreto.
A bancada governista no Legislativo argentino tentou, sem sucesso, realizar a votação na Câmara dos Deputados antes do início da greve geral.
A oposição, por outra parte, quer votar o projeto nesta quinta-feira (25/01), aproveitando a repercussão política da greve, mas enfrenta a resistência dos apoiadores do governo, que primeiro tentaram acelerar o trâmite, e agora querem adiar a votação.
Solidariedade internacional
Além dos atos em Buenos Aires e em várias capitais de província da Argentina, também estão sendo realizados, nesta mesma quarta-feira, atos em ao menos três cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, convocados por centrais sindicais que manifestam sua solidariedade com os trabalhadores argentinos.
Outras manifestações em apoio à greve argentina acontecem nas cidades de Montevidéu (Uruguai), Assunção (Paraguai), Santiago (Chile), Madri (Espanha) e Roma (Itália).