A histórica, turística e bela cidade de Cartagena das Índias, a principal joia da coroa para os colombianos, localizada no mar do Caribe, está à deriva como um navio sem timoneiro na mais grave crise de governabilidade da sua história recente.
No último mês, “La Heroica” – como popularmente é conhecida esta cidade de sobrados e telhados coloniais – foi governada por quatro prefeitos sem que nenhum encontrasse o rumo e uma saída ou explicação para o desgoverno da cidade de 1,15 milhões de habitantes, na maioria afrodescendentes.
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O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, após saber de uma incapacidade médica do prefeito titular, Campo Elias Terán, nomeou o diretor do Departamento Administrativo para a Prosperidade Social, Bruce Mac Master, como prefeito temporário.
A crise, apesar de estar relacionada com seu passado recente, explodiu quando o prefeito Terán teve que abandonar seu cargo temporariamente devido a uma doença aparentemente grave, da qual não se sabe nada por conta do silêncio de sua família que se negou a revelar seu verdadeiro estado de saúde.
Terán é um comunicador que trabalhou durante muitos anos como locutor de um popular programa de rádio em que ajudava as classes mais desfavorecidas de Cartagena, o que lhe rendeu o afeto dos moradores da cidade e uma eleição para prefeito em 2011. “Nunca antes na história da cidade tivemos um prefeito com mais votos (165 mil) que Campo Elías”, explicou à Agência Efe o vereador David Múnera, que classificou sua breve administração como um “desastre”.
Apesar da doença do prefeito, Múnera sustenta que Terán “não era um homem preparado para a administração pública, não tinha conhecimento do que fazer por Cartagena e, além disso, estava acompanhado da velha classe política tradicional”. Segundo Múnera, “na administração não havia um comando unificado, o prefeito não mandava pessoalmente, mas, sim, grupos de amigos que disputavam o poder internamente entre eles, o que acabou levando a cidade ao caos”.
Assim como na época dos piratas europeus que vinham roubar os tesouros das Américas, “Cartagena foi saqueada por todas as classes e partidos que passaram pela administração pública e essa é a razão para o seu atraso, para a sua estagnação”, destacou Múnera.
Além do desvio de recursos públicos, a questão da segurança é um dos fatores que mais preocupam os moradores da cidade. “Em Cartagena o problema de segurança gerou uma perda de autoridade, há lugares em que a polícia quase não pode entrar”, disse à Efe o ex-secretário de Segurança, Gabriel Arango Bacci.
Cartagena – o porto e cidade turística e colonial mais visitada da Colômbia – vive uma situação de pobreza extrema sem igual, comparada com outras grandes cidades do país. Pelo menos meio milhão de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza e mais de 100 mil se encontram na miséria absoluta. “Cerca de dez mil crianças abandonam os estudos por ano, por razões de pobreza, porque os pais não têm como pagar o colégio, como pagar os transportes ou porque as crianças têm que trabalhar”, garantiu Múnera.
Além disso, existe a prostituição infantil, a falta de empregos formais e uma ausência total de planejamento como evidencia a construção da Transcaribe, um novo sistema de transporte em massa que leva nove anos sem concluir as obras e que já gastou mais de 200 bilhões de pesos (R$ 204 milhões) acima do orçamento inicial.
E esses são os desafios para quem for conduzir os destinos desta cidade, que em 1984 foi declarada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como patrimônio histórico da humanidade.