O criador do WikiLeaks, Julian Assange, passa por um processo de tortura física e psicológica, fato que tem impacto direto nas democracias e na liberdade de imprensa em todo o mundo. O alerta vem do relator da Organização das Nações Unidas (ONU) Nils Melzer. “De repente, o que aconteceu com o outro (tortura e violações) pode facilmente atingir a nós e nossos filhos. E ninguém se importará.”
Melzer tem vasta experiência como relator especial da ONU sobre torturas, bem como delegado da Cruz Vermelha. Ele sentencia, jura que o futuro é mais sombrio do que muitos esperam. “Vi o quão rápido países pacíficos podem se transformar em infernos. As raízes sempre são falta de transparência e um poder político econômico desenfreado, combinado com ingenuidade, indiferença e maleabilidade da população”, disse.
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A entrevista do relator foi concedida para o site suíço Republik . As alegações são fortes e envolvem uma série de abusos e violações de direitos humanos deste homem, que ganhou a inimizade de muitos poderosos por divulgar a verdade. De acordo com Melzer, Assange é vítima de uma intensa conspiração que envolve fraude processual, juízes imparciais e pressões internacionais. Por expor crimes de guerra dos Estados Unidos, Assange é condenado no país a 175 anos de prisão.
“O número de infrações registradas na Suécia (país aonde Assange foi acusado de abusar de mulheres sem prova, sem sequer testemunho delas) nas primeiras semanas de investigação é simplesmente grotesco. O Estado designou um assessor legal para mulheres que disse que a interpretação criminal do que viveram dependia do Estado e não delas”, afirma Melzer.
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Por expor crimes de guerra dos Estados Unidos, Assange é condenado no país a 175 anos de prisão
Quando a Justiça sueca resolveu desistir do caso por lacunas óbvias, os britânicos responderam prontamente, na diplomacia, que “não se atrevessem a tal”. Assange estava sob custódia da Justiça inglesa. “A Coroa queriam evitar que os suecos abandonassem o caso a todo custo (…) O que o WikiLeaks fez foi uma ameaça para a elite política dos Estados Unidos, Grã Bretanha, França e Rússia em igual medida”, disse.
Sistema assassino
Para além de Assange como herói ou vilão, a perseguição pela qual foi submetido é um xeque-mate na liberdade de imprensa, especialmente nas chamadas “democracias consolidadas”. “Em um nível prático, significa que você, jornalista, deve se defender agora”, afirma Mielzer.
“Se o jornalismo de investigação se classifica como espionagem e pode ser criminalizado em todo o mundo, a censura e a tirania imperam. Estão criando um sistema assassino diante de nossos olhos”, sentencia o relator.
Diante de tal cenário, Mielzer diz estar convencido dos perigos explicitados pelo caso Assange. “Vamos ver aonde estaremos em 20 anos com Assange condenado e sobre o que você poderá escrever como jornalista. Estamos em grave perigo de perder a liberdade de imprensa. Já está acontecendo (…) quando a imprensa descobre maus comportamentos dos representantes do Estado”, concluiu.