A Justiça belga ordenou nesta quinta-feira (22/12) a continuação da detenção da eurodeputada grega Eva Kaili, acusada este mês em uma investigação de corrupção envolvendo o Catar, escândalo já conhecido como “Catargate”, o que já lhe custou o cargo de vice-presidente do Parlamento Europeu.
A Câmara do Conselho de Bruxelas, perante a qual a deputada socialista compareceu 11 dias após o início de sua detenção, recusou o pedido de liberação sob pulseira eletrônica e “prorrogou a prisão preventiva por um mês”, anunciou o Ministério Público Federal em comunicado. Os advogados têm 24 horas para apelar da decisão, informou a promotoria.
Eva Kaili nega qualquer corrupção, reafirmaram seus conselheiros na manhã desta quinta-feira. Eles esperavam obter uma libertação acompanhada de colocação de pulseira eletrônica, argumentando especificamente sua “participação ativa” na investigação e a ausência de risco de fuga.
Neste escândalo, que causou repercussões no Parlamento Europeu e tensões entre o Catar e a União Europeia, Eva Kaili faz parte de um quarteto de suspeitos detido após uma acusação de “pertencimento a uma organização criminosa”, “lavagem de dinheiro” e “corrupção”.
Em 14 de dezembro, a Justiça belga já havia decidido por manter na prisão Francesco Giorgi, companheiro da eurodeputada socialista, e o ex-eurodeputado Pier Antonio Panzeri, que também aparecem como figuras-chave no processo.
Inocente
Um quarto réu, Niccolo Figa-Talamanca, líder de uma ONG, havia sido colocado em liberdade sob uso de pulseira eletrônica no mesmo dia, mas a medida foi suspensa depois que o Ministério Público Federal recorreu. Uma audiência está marcada para 27 de dezembro, de acordo com seu advogado.
Ex-apresentadora de telejornais, que se tornou uma figura polêmica no Partido Socialista Grego (Pasok-Kinal) – que a excluiu na ocasião das primeiras revelações – Eva Kaili continua a negar ter recebido dinheiro do Catar para influenciar suas decisões políticas.
De acordo com uma fonte judicial belga, sacos cheios de notas no valor de € 150 mil foram descobertos em seu apartamento em Bruxelas. Mas Kaili “não sabia da existência desse dinheiro”, alegou seu advogado grego Michalis Dimitrakopoulos, que afirma que Giorgi teria “traído a confiança” de sua companheira.
Wikicommons
Eva Kaili nega qualquer corrupção, reafirmaram seus conselheiros
Na Grécia, uma conta bancária conjunta do casal foi apreendida pela justiça, bem como um terreno de 7.000 m² na ilha de Paros adquirido por meio desta conta, informou nesta quinta-feira uma fonte judicial. Uma investigação foi aberta na semana passada pelo Gabinete do Procurador Financeiro de Atenas.
Fight Impunity
Na Bélgica, a investigação conduzida pelo juiz financeiro Michel Claise deu origem a 20 buscas entre 9 e 12 de dezembro, inclusive nas instalações do Parlamento Europeu, em Bruxelas.
O pai de Eva Kaili foi mantido sob custódia por 48 horas na capital belga, enquanto a esposa e a filha de Panzeri, alvo de um mandado europeu de prisão, foram detidas na Itália. Eles contestaram perante os tribunais italianos seu retorno à Bélgica.
No total, os investigadores belgas reuniram € 1,5 milhão em espécie, informou a mesma fonte judicial. Além dos € 150 mil descobertos na casa de Kaili, o pai dela foi surpreendido com uma mala contendo € 750 mil em dinheiro.
Por fim, foram apreendidos € 600 mil na casa de Panzeri, ex-deputado socialista do Parlamento Europeu que fundou a ONG Fight Impunity em Bruxelas em 2019, cujos três anos de atividade são agora minuciosamente investigados.
“Impacto negativo”
O dirigente sindical italiano Luca Visentini, que conhece Panzeri, admitiu esta semana ter recebido uma doação em dinheiro de cerca de € 50 mil da Fight Impunity, mas garantiu que não estava ligada a nenhuma tentativa de corrupção ou tráfico de influência em benefício do Catar.
Implicado na investigação, Visentini, secretário-geral da Confederação Sindical Internacional (CSI), foi libertado sob supervisão judicial em 11 de dezembro, após dois dias sob custódia policial. Na quarta-feira (21/12), ele foi “suspenso” de seu cargo pelo corpo diretivo da CSI.
No nível diplomático, o escândalo abala a relação entre a União Europeia e o Catar, que tem alertado para um possível “impacto negativo” no fornecimento de gás. O emirado, que “rejeita veementemente” as acusações, protestou contra uma votação realizada em 15 de dezembro no Parlamento Europeu que visa suspender o acesso “de representantes dos interesses do Catar” durante a investigação.