Segunda-feira, 14 de julho de 2025
APOIE
Menu

A Justiça belga ordenou nesta quinta-feira (22/12) a continuação da detenção da eurodeputada grega Eva Kaili, acusada este mês em uma investigação de corrupção envolvendo o Catar, escândalo já conhecido como “Catargate”, o que já lhe custou o cargo de vice-presidente do Parlamento Europeu.

A Câmara do Conselho de Bruxelas, perante a qual a deputada socialista compareceu 11 dias após o início de sua detenção, recusou o pedido de liberação sob pulseira eletrônica e “prorrogou a prisão preventiva por um mês”, anunciou o Ministério Público Federal em comunicado. Os advogados têm 24 horas para apelar da decisão, informou a promotoria.

Eva Kaili nega qualquer corrupção, reafirmaram seus conselheiros na manhã desta quinta-feira. Eles esperavam obter uma libertação acompanhada de colocação de pulseira eletrônica, argumentando especificamente sua “participação ativa” na investigação e a ausência de risco de fuga.

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

Neste escândalo, que causou repercussões no Parlamento Europeu e tensões entre o Catar e a União Europeia, Eva Kaili faz parte de um quarteto de suspeitos detido após uma acusação de “pertencimento a uma organização criminosa”, “lavagem de dinheiro” e “corrupção”.

Em 14 de dezembro, a Justiça belga já havia decidido por manter na prisão Francesco Giorgi, companheiro da eurodeputada socialista, e o ex-eurodeputado Pier Antonio Panzeri, que também aparecem como figuras-chave no processo.

Inocente

Um quarto réu, Niccolo Figa-Talamanca, líder de uma ONG, havia sido colocado em liberdade sob uso de pulseira eletrônica no mesmo dia, mas a medida foi suspensa depois que o Ministério Público Federal recorreu. Uma audiência está marcada para 27 de dezembro, de acordo com seu advogado.

Ex-apresentadora de telejornais, que se tornou uma figura polêmica no Partido Socialista Grego (Pasok-Kinal) – que a excluiu na ocasião das primeiras revelações – Eva Kaili continua a negar ter recebido dinheiro do Catar para influenciar suas decisões políticas.

De acordo com uma fonte judicial belga, sacos cheios de notas no valor de € 150 mil foram descobertos em seu apartamento em Bruxelas. Mas Kaili “não sabia da existência desse dinheiro”, alegou seu advogado grego Michalis Dimitrakopoulos, que afirma que Giorgi teria “traído a confiança” de sua companheira.

Neste escândalo, que causou repercussões no Parlamento Europeu e tensões entre o Catar e a União Europeia, Eva Kaili faz parte de um quarteto de suspeitos

Wikicommons

Eva Kaili nega qualquer corrupção, reafirmaram seus conselheiros

Na Grécia, uma conta bancária conjunta do casal foi apreendida pela justiça, bem como um terreno de 7.000 m² na ilha de Paros adquirido por meio desta conta, informou nesta quinta-feira uma fonte judicial. Uma investigação foi aberta na semana passada pelo Gabinete do Procurador Financeiro de Atenas.

Fight Impunity

Na Bélgica, a investigação conduzida pelo juiz financeiro Michel Claise deu origem a 20 buscas entre 9 e 12 de dezembro, inclusive nas instalações do Parlamento Europeu, em Bruxelas.

O pai de Eva Kaili foi mantido sob custódia por 48 horas na capital belga, enquanto a esposa e a filha de Panzeri, alvo de um mandado europeu de prisão, foram detidas na Itália. Eles contestaram perante os tribunais italianos seu retorno à Bélgica.

No total, os investigadores belgas reuniram € 1,5 milhão em espécie, informou a mesma fonte judicial. Além dos € 150 mil descobertos na casa de Kaili, o pai dela foi surpreendido com uma mala contendo € 750 mil em dinheiro.

Por fim, foram apreendidos € 600 mil na casa de Panzeri, ex-deputado socialista do Parlamento Europeu que fundou a ONG Fight Impunity em Bruxelas em 2019, cujos três anos de atividade são agora minuciosamente investigados.

“Impacto negativo”

O dirigente sindical italiano Luca Visentini, que conhece Panzeri, admitiu esta semana ter recebido uma doação em dinheiro de cerca de € 50 mil da Fight Impunity, mas garantiu que não estava ligada a nenhuma tentativa de corrupção ou tráfico de influência em benefício do Catar.

Implicado na investigação, Visentini, secretário-geral da Confederação Sindical Internacional (CSI), foi libertado sob supervisão judicial em 11 de dezembro, após dois dias sob custódia policial. Na quarta-feira (21/12), ele foi “suspenso” de seu cargo pelo corpo diretivo da CSI.

No nível diplomático, o escândalo abala a relação entre a União Europeia e o Catar, que tem alertado para um possível “impacto negativo” no fornecimento de gás. O emirado, que “rejeita veementemente” as acusações, protestou contra uma votação realizada em 15 de dezembro no Parlamento Europeu que visa suspender o acesso “de representantes dos interesses do Catar” durante a investigação.