O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, afirmou nesta quarta-feira (20/03) que os acordos assinados com os EUA durante a visita do presidente Jair Bolsonaro a Washington são “bons resultados” que começaram em 2017, quando o atual ministro das Relações Exteriores escreveu um artigo sobre Donald Trump e o Ocidente.
“Esses bons resultados que nós conseguimos começaram, no meu ponto de vista, em setembro de 2017, quando eu escrevi um artigo sobre Trump e o Ocidente onde eu procurei analisar os Estados Unidos de uma perspectiva que, no Brasil, ninguém estava analisando, dentro de uma concepção mais geral de civilização ocidental de recuperação de valores e de história com uma sugestão para que o Brasil fizesse algo semelhante”, disse Araújo, em entrevista coletiva. “A partir daí, essas minhas reflexões chegaram ao presidente Jair Bolsonaro, então recém-eleito.”
O artigo a que o ministro se refere foi enviado, à época, aos membros da transição de governo de Bolsonaro, e dizia que o presidente norte-americano “propõe uma visão do Ocidente não baseada no capitalismo e na democracia liberal, mas na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais. (…) Em seu centro, está não uma doutrina econômica e política, mas o anseio por Deus, o Deus que age na história. Não se trata tampouco de uma proposta de expansionismo ocidental, mas de um pan-nacionalismo. O Brasil necessita refletir e definir se faz parte desse Ocidente”.
Segundo Araújo, que faz parte do grupos de seguidores de Olavo de Carvalho, suas visões permitiram ao Brasil “se reconectar com essa dimensão tanto numa perspectiva econômica, quanto numa filosofia de mundo” e que seriam esses ideais propostos por ele os responsáveis pelos acordos assinados entre os dois governos.
“Há uma conexão, porque as pessoas gostam de criticar minhas ideias. Gostariam que eu não tivesse ideia nenhuma, porque são pessoas que não gostam de ideias, e a gente está tentando fazer um governo com ideias e uma política externa com ideias. Então, quem não gosta de ideias, não gosta, porque a gente tem ideias”, disse o chanceler.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o ministro teria se irritado por causa da participação do deputado federal Eduardo Bolsonaro na reunião entre o presidente Bolsonaro e Trump no Salão Oval da Casa Branca, que aconteceu na terça-feira (19/03). Araújo não participou do encontro.
“Existe uma conexão entre as minhas ideias e os resultados que a gente conseguiu com os Estados Unidos. Gostam dos resultados? Então tá, então reconheçam que parte disso aqui são as ideias que eu venho desenvolvendo, publicando e falando delas. Agora achar que foi um excelente resultado e continuar dizendo que minhas ideias não têm nada a ver, por favor, não tem lógica nisso”, afirmou.
O ministro ainda falou sobre a política externa de governos anteriores que, segundo ele, era um espelho que refletia o Brasil com “todo esse cabedal de distorções ideológicas e de falsas tradições, que nos mostrava pequenos, um pais tímido, pobrezinho”, mas que a intenção de sua gestão é “colocar um espelho plano, que nos mostre o nosso tamanho”.
Imprensa
Araújo também criticou a cobertura da imprensa que, segundo ele, chamou os “avanços conquistados” na visita a Washington de “pacote, sem dizer como esse pacote surgiu”.
“É como se tivesse caminhando e, de repente, tropecei com um pacote, olha só que maravilha, a OCDE tá aqui, grande aliado da Otan […] puxa que bom, de onde caiu isso aqui? Obrigado, Papai Noel. Não, muitas pessoas trabalharam e construíram esse pacote. Mas tá bem, não querem falar, não falem, algum dia alguém saberá”, disse o ministro.
O pacote a que se refere o chanceler são os acordos, promessas e apoios que foram decididos durante a visita de Bolsonaro aos EUA, como a assinatura do acordo de salvaguardas tecnológicas para o uso comercial da base de Alcântara, no Maranhão, e os anúncios do presidente Donald Trump sobre o apoio à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) e a intenção de nomear o Brasil um “aliado extra-Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]”, com a possibilidade de designar o país um “aliado da Otan”.
“O Brasil precisava aderir aos dois grandes instrumentos do Ocidente, o braço econômico que é a OCDE e o braço militar, de segurança, que é a Otan, ainda não se trata de aderir inteiramente, mas já ter uma conexão através desse status de Aliado Preferencial, mas o presidente Trump já disse que gostaria de pensar no Brasil talvez como um membro da Otan”, disse Araújo.
O ministro também destacou a influência que a Otan poderia ter na área da defesa do Brasil e disse que “o mundo está olhando diferente para o Brasil hoje. Muita gente quer que o gigante continue adormecido. O gigante acordou, essa é a mensagem de ontem”.
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Segundo Araújo, suas visões permitiram ao Brasil “se reconectar com essa dimensão tanto numa perspectiva econômica quanto numa filosofia"