Os chilenos começaram a votar neste domingo (17) para escolher o novo presidente do país em uma das eleições presidenciais mais apertadas de sua história, com o direitista Sebastián Piñera de um lado e o governista Eduardo Frei do outro. Mais de oito milhões de cidadãos poderão escolher o sucessor da presidente chilena, Michelle Bachelet, que, apesar da alta popularidade, não pode concorrer a um segundo mandato consecutivo e deixará o poder no dia 11 de março.
No primeiro turno, o opositor Piñera recebeu 44,03% dos votos, enquanto o governista e ex-presidente Frei (1994-2000), que representa a Concertação, a coalizão de centro-esquerda que governa o Chile desde 1990 ficou com 29,60%.
Frei conseguiu, porém, diminuir essa diferença para 1,8 ponto percentual – 49,1% contra 50,9% para Piñera – segundo a última pesquisa divulgada na quarta-feira (13) pela empresa de consultoria MORI. Os primeiros resultados deveriam ser divulgados por volta das 19h locais (20h de Brasília).
Segundo o analista político argentino Gabriel Puricelli, o resultado depende do peso no eleitorado dos “anti-Pinochet” frente aos “anti-Concertação”. Numa entrevista concedida por telefone desde Buenos Aires, o co-coordenador do Programa de Política Internacional e do Laboratório de Políticas Públicas, especializado na América Latina, considera que o cenário político chileno deveria conhecer mudanças profundas a partir de amanha. Segundo ele, uma reforma profunda da Concertação é inevitável.
O senhor acha que apesar da vitória de Piñera no primeiro turno, Frei tem ainda possibilidade de ganhar?
As pesquisas indicam que o resultado é aberto. A aritmética do primeiro turno também apontava nessa direção. A dúvida é o comportamento dos eleitores de Marco Enriquez Ominami, o candidato dissidente do Partido Socialista derrotado no primeiro turno, que teve um pouco mais de 20% dos votos. Três quartos deles são pessoas profundamente “anti-Pinochet”, o que pode prejudicar Sebastián Piñera. A grande questão era, e continua sendo até hoje à noite: qual parte deles virou “anti-Concertação” durante os últimos anos.
Como o senhor qualificaria os candidatos?
Piñera é uma mistura de social-cristianismo alemão com Silvio Berlusconi. As convicções democráticas que ele teve a possibilidade de adquirir honestamente durante os últimos 20 anos não valem nada frente aos valores pinochetistas reivindicadas pela União Democrática Independente, (UDI), que é hoje o maior partido do Chile.
Por seu lado, Frei é um democrata-cristão do centro que não levanta entusiasmo. Ele parece, porém, disposto a se deixar recriar por uma conjuntura que pede mais ousadia, que ele nunca mostrou. Aparentemente, a informação segundo a qual Pinochet teria ordenado o assassinato de seu pai provocou uma comoção, o que pode ajudar nessa mudança.
Dependendo do resultado hoje à noite, qual será o impacto sobre a Concertação?
O espaço eleitoral da Concertação já mudou. No primeiro turno, um pouco mais de três quintos dos eleitores tradicionais da coalizão votaram no Frei, e um pouco menos de dois quintos escolheram Ominami. Também as mudanças institucionais já foram iniciadas antes mesmo do resultado da eleição.
Os lideres do Partido Pela Democracia (PPD) e do Partido Radical Social Demócrata (PRSD) tiveram que renunciar. No entanto, a clave da reforma da Concertação depende dos acontecimentos nos dois grupos mais importantes, ou seja Partido Demócrata cristão (PDC) – onde começou a larga crise da coalizão – e, obviamente, no Partido Socialista (OS).
O impacto da eleição tão apertada se estende aos outros partidos?
Todas as forças democráticas do país devem se preparar para mudanças importantes. Por exemplo, pela primeira vez, o Partido comunista (PC) deveria ter um papel significante na nova configuração política. Acho que a Presidente Michelle Bachelet e o candidato governista Eduardo Frei já chegaram à conclusão que hoje, existe um espaço para ir além do minimalismo das políticas públicas aplicadas durante os últimos 20 anos no Chile. No começo, os governos democráticos sofreram a pressão do próprio Pinochet, que estava ainda presente no cenário político. Depois, eles ficaram presos de um consenso ideológico neoliberal.
É esta nova percepção que explica a adoção súbita da agenda legislativa proposta por Ominami durante o primeiro turno por Frei, assim como o tom inesperadamente agressivo na campanha do segundo turno.
Com a ajuda do partido comunista, muito organizado, e pessoas como o presidente do partido Guillermo Teillier, e Jorge Arrate, o ex-socialista candidato do PC no primeiro turno, dá para imaginar a consolidação de uma força que obrigue a Concertação a olhar mais para esquerda.
Marco Enríquez-Ominami tornou-se a grande sensação da eleição. Ele conseguiu mais de 20% dos votos no primeiro turno, com sua candidatura independente. É um fenômeno passageiro ou pode se sustentar como um líder político importante?
MEO, como o chamam os chilenos, terá que enfrentar um grande desafio: transformar sua capacidade de tração eleitoral numa organização permanente, que até agora, não existe. A outra possibilidade, seria usar sua força política para tomar o controle de um pólo progressista da Concertação.
Partidos como o PPD e o PRSD parecem dispostos a aceitar este tipo de solução. Mas não é o caso entre os socialistas. MEO encontrará a oposição de Camilo Escalona, presidente do PS, e também da Michelle Bachelet, que esta planejando sua volto no partido.
NULL
NULL
NULL