O Chile realiza neste domingo (17/12) o segundo turno das eleições presidenciais que vão definir o sucessor da atual mandatária, Michelle Bachelet. Após um primeiro turno marcado pela divisão na antiga Concertação – que levou quase todos os presidentes ao poder após o final da ditadura Pinochet -, a nova votação apresenta um embate entre direita e centro-esquerda.
Do lado da centro-esquerda, está Guillier, que se coloca como defensor do legado de Bachelet e promete focar seu eventual governo nas conquistas sociais dos últimos anos. Entre os principais motes da campanha, está o aprofundamento da reforma na educação, iniciada pela presidente em seu segundo mandato, e a alteração da Constituição herdada da ditadura.
Antes de se candidatar à Presidência, Guillier, 64 anos, contava com três décadas de jornalismo televisivo e de rádio, tendo atuado desde a produção de matérias até a apresentação de telejornais – inclusive com Beatriz Sánchez, uma de suas adversárias no primeiro turno.
Na política há apenas quatro anos, o também sociólogo busca usar sua popularidade como forma de angariar votos. Guillier tornou-se senador em 2014 e sempre contou com um forte apoio do Partido Radical, que faz parte da coalizão governista. Ele disputaria as primárias da Nova Maioria, mas a votação acabou cancelada após a retirada da candidatura do ex-presidente Ricardo Lagos e a decisão da Democracia Cristã (DC), antiga companheira de Concertação, de lançar Carolina Goic como sua postulante ao Palácio de la Moneda.
Piñera
Presidente entre 2010 e 2014, justamente entre os dois mandatos de Bachelet, o empresário direitista de 67 anos chegou ao segundo turno com o impacto do erro das pesquisas de intenção de voto, que apontavam mais de 40% para ele ao final da primeira volta – Piñera ficou com 37%.
Tido como um dos homens mais ricos do país, Piñera é dono de um patrimônio estimado em US$ 2,7 bilhões, segundo a revista “Forbes”.
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Ao ser eleito presidente, se desfez dessas participações e confiou parte de sua fortuna a um “blind trust”, fundo que administra ativos sem a interferência de seus proprietários, mas acusações de conflito de interesses permeiam sua vida na política. Seu período no poder também foi marcado pelo acidente que soterrou 33 trabalhadores em uma mina a 700 metros de profundidade em San José.
O incidente, ocorrido em agosto de 2010, causou comoção mundial, especialmente no resgate dos mineiros, realizado mais de dois meses depois. Seu governo, iniciado em março daquele ano, também teve de lidar com a reconstrução das zonas destruídas pelo terremoto de magnitude 8,8 na escala Richter que matou mais de 500 pessoas no centro do país em fevereiro.
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TVN Chile
Piñera (esq.) e Guillier, durante último debate na TV: disputa acirrada no segundo turno no Chile
A última pesquisa do Instituto Cadem, divulgada no dia 1º de dezembro – os levantamentos eleitorais só podem ser divulgados até no máximo 15 dias antes das eleições – mostra empate técnico entre Piñera (40% das intenções) e Guillier (38,6%).
Nova força política
Os resultados do primeiro turno mostraram o surgimento de uma nova força política no Chile: a Frente Ampla, de esquerda, representada por Sánchez na rodada inicial de votação.
A Frente Ampla é formada por uma coligação de 13 partidos: Poder Cidadão, Esquerda Autônoma, Movimento Democrático Progressita, Movimento Autonomista, Esquerda Libertária, Partido Igualdade, Movimento Político Socialismo e Liberdade, Partido Ecologista Verde, Nova Democracia, Partido Liberal do Chile, Partido Pirata, Partido Humanista e Revolução Democrática. Alguns membros da FA, como os deputados Gabriel Boric e Giorgio Jackson, foram líderes das manifestações estudantis que marcaram o Chile em 2011.
“Somos uma força que chegou para ficar”, afimou Sánchez, em discurso após a divulgação dos resultados. Ela não deixou de notar a disparidade entre as pesquisas e o que saiu das urnas. “Se as pesquisas tivessem dito a verdade, estaríamos no segundo turno”, disse. Ela obteve 20,27% dos votos, mas os levantamentos a colocavam com 13%.
Além do expressivo resultado na eleição para presidente, a Frente Ampla também conseguiu um bom número de cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado. Segundo o Servel (Serviço Eleitoral do Chile), a FA elegeu um senador e 20 deputados, efetivamente se tornando a terceira força na Câmara Baixa.
FA na oposição
No começo da semana passada, em entrevista à teleSUR, Sánchez – que declarou apoio “pessoal” a Guillier – afirmou que FA será oposição independentemente de quem ganhe neste domingo. “A Frente Ampla será oposição aos dois [Piñera ou Alejandro Guillier, candidato de Bachelet]. Nós não vamos negociar nem, tampouco, vamos ocupar cargo no governo. Isso é algo definitivo”, afirmou.
Ela afirmou, no entanto, que considera uma eventual eleição de Piñera um risco. “Cremos que Sebastián Piñera é um retrocesso porque representa o conglomerado de direita mais conservador do Chile, representa os grandes grupos econômicos (…) se instala dizendo que quer voltar atrás nas reformas”, disse.