A China está lançando uma iniciativa global de construção de mídia para melhorar sua imagem no exterior. De acordo com um jornal de Hong Kong, o governo planeja investir mais de 6,5 bilhões de dólares (aproximadamente 15 bilhões de reais) no projeto.
O objetivo é montar um canal 24 horas de notícias em inglês, dobrar o número de escritórios estrangeiros pertencentes à sua agência de notícias oficial, Xinhua, e desenvolver um novo jornal diário em inglês.
Essa ofensiva de comunicação surge em decorrência do caótico ano de 2008, quando a China quis ter seu momento de consagração diante do cenário internacional graças aos Jogos Olímpicos. Mas, ao contrário do esperado, acabou se tornando alvo de intensa crítica mundial, pelo modo como lida com o Tibete, dos descuidos com o terremoto de Sichuan em maio 2008, sem falar do escândalo do leite estragado, quando cerca de 580 bebês sofreram intoxicação alimentar após consumir o alimento manipulado.
A China aprendeu a lição. “Capacidade de comunicação determina influência”, enfatizou Li Changchun, chefe de propaganda da China, em dezembro do ano passado. “Na idade moderna, a nação que tiver métodos de comunicação mais avançados e capacidade de comunicação mais forte, será a nação cuja cultura e valores centrais serão capazes de ser espalhados, e esta será a nação com mais poder de influenciar o mundo”, acrescentou.
Global Times
Enquanto a “CNN Chinesa”, inspirada no canal de notícias árabes Al-Jazeera, deveria começar sua transmissão em um ou dois anos, o Global Times, o novo jornal diário pertencente à própria voz oficial do Partido Comunista, o Diário do Povo, imprimiu sua primeira edição na semana passada.
Mas as falhas do plano de sedução chinês vieram à tona. O jornal parece ser mais uma ferramenta de propaganda, com manchetes que elogiam descaradamente a força naval chinesa e que criticam o primeiro-ministro japonês. Durante a 2ª Guerra Mundial, o Japão ocupou a China e desde então as relações diplomáticas estão sob tensão.
Sua linha editorial não se afasta da oficial, e mesmo o editor chefe da publicação, em entrevista na mídia chinesa, parecia ser incapaz de relatar uma visão pessoal do projeto. “Com o lançamento da edição inglesa do Global Times, nós ganhamos confiança para fazer dele um sucesso, para fazer amizade com os estrangeiros e facilitar a comunicação entre a China e o mundo”, disse.
Panorama
A China não mudou seu modelo de informação nos últimos 50 anos. Todos os meios são controlados pelo Ministério da Propaganda, e os jornalistas têm uma margem de ações bem pequena em suas matérias e reportagens. Aqueles que desafiam as regras podem até mesmo acabar na cadeia.
O futuro canal não será uma exceção. Ele será gerido pela agência de notícias Xinhua, que está sob a autoridade do Gabinete Central da Propaganda. O quão sedutor será para a audiência estrangeira? “Eles têm as ferramentas financeiras para desenvolver um canal moderno, mas não necessariamente relevante”, afirma Vincent Brossel, especialista em Ásia da Ong Repórteres Sem Fronteira.
“A diferença é muito grande. A televisão estatal censurou o discurso de Obama! Acredito que eles podem agradar uma audiência chinesa que vive fora, mas não atrairão uma audiência internacional acostumada à informação aberta e crítica”, completa.
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