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Parte da frente das novas Bristol Pounds, moeda alternativa à libra esterlina criada na cidade de Bristol, no sudoeste inglês
A cidade de Bristol, sexta mais populosa do Reino Unido, desenvolveu uma estratégia singular para salvar seu comércio do apetite voraz das franquias de restaurantes e redes de supermercados britânicos. Ela lança no do dia 19 de setembro o Bristol Pound, ou libra de Bristol, moeda alternativa à libra esterlina, com notas coloridas e até cartão de crédito para transações eletrônicas.
A criação de moedas novas pelo mundo vem ganhando notoriedade há pelo menos cinco anos. Há casos conhecidos em Toronto, Nova York e Londres, além de rincões da Nova Zelândia e da África do Sul. O objetivo principal, segundo os que advogam pela moeda local, é reforçar as diferenças entre o varejo independente e as cadeias multinacionais, além de impor um senso mais forte de comunidade.
“Nosso movimento é local, independente e sem fins lucrativos”, ressaltou ao Opera Mundi o diretor do Bristol Pound, Chris Sunderland. “Queremos oferecer ao usuário da moeda novas soluções para compra e venda. Bristol tem uma comunidade forte, que admira a própria cidade, e por isso acreditamos que o projeto vai dar certo.”
O design das notas de Bristol Pound, que terão o símbolo ₤B, foi divulgado em 6 de julho pela associação. As ilustrações estão longe de mostrar membros da monarquia britânica, como fazem as notas de libra esterlina. Elas foram produzidas por artistas locais e representam imagens da cidade.
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A bicicleta e a raposa, do ilustrador Jethro Brice, estarão na nota de ₤B1, enquanto o tigre grafiteiro de Alex Lucas será a cara da nota de ₤B5. Cada libra de Bristol terá o mesmo valor de face de uma libra esterlina. O câmbio será fixo e o uso da nota não significa que o consumidor terá descontos no comércio local.
A recompensa pelo uso da moeda, de acordo com Sunderland, virá com o fortalecimento da região através do rechaço às multinacionais. A palavra-chave do movimento é o “localismo” em oposição à “crise de identidade” decorrente da globalização. Uma batalha contra a ideia de que os supermercados, por exemplo, devam ser galpões recheados de commodities.
Alcance e projeções
A maior preocupação dos idealizadores do Bristol Pound é fazer com que ele seja aceito no maior número de lojas possível. Até agora, cerca de 250 comerciantes aderiram à nova moeda e pretendem aceitá-la normalmente, inclusive para operações online. O número ideal para começar a operação em setembro, segundo Sunderland, é de 300 casas para fazer a moeda circular.
“Os consumidores precisam poder comprar tudo o que precisam com o Bristol Pound, por questões de conveniência. Assim ele poderá fazer as compras com mais cuidado, pesquisar preços e desenvolver o uso da moeda naturalmente”, afirmou o diretor da moeda. “Nosso objetivo é que a plataforma seja multi-milionária em alguns anos”, disse.
O otimismo é reflexo de uma vitória importante para o Bristol Pound. Ele já será aceito pela prefeitura de Bristol para pagamento de impostos, o que institucionaliza sua circulação em todas as esferas da economia local.
Reprodução
Para atingir esse status, a equipe da moeda precisou criar uma companhia de crédito, o Bristol Credit Union, que funcionará como fundo garantidor e banco para efetuar a troca da moeda oficial pela alternativa.
[Em vez da Rainha Elizabeth II (à esquerda, na nota de 20 libras esterlinas), a libra Bristol representa imagens da cidade]
Para os primeiros seis meses de operação, cada câmbio de moeda terá um bônus de 5%, ou seja, a cada 100 libras esterlinas depositadas o consumidor receberá ₤B105.
Sustentação
No futuro, o sistema terá como base de sustentação pequenas taxas cobradas para câmbio e transações. Trocar Bristol Pounds por libras esterlinas, ou seja, reverter o processo, terá uma taxa de 3% por câmbio, enquanto 2% serão cobrados por transações via SMS e 1% para transações online.
Como a moeda pode extrapolar os limites de Bristol e ser usada em outras cidades, desde que aceitas por comerciantes cadastrados, a perspectiva mais otimista é que ela se torne uma moeda regional. “Teremos uma massa crítica querendo gastar e eles precisam ter chance de fazer boas escolhas. Estamos procurando diversificar o máximo possível”, contou Sunderland.
No entanto, ele ainda trabalha para que toda a cadeia de comércio de Bristol também comece a usar a moeda alternativa. A maior preocupação é com os fornecedores de alimentos e bebidas que ainda não se cadastraram no sistema. Para incentivá-los, a aposta é na identidade local.
“Acreditamos que qualquer cidade pode fazer o mesmo”, afirmou Sunderland, entusiasmado. “Especialmente se ela estiver sofrendo com um excesso de cadeias de supermercados e franquias.”