O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, visitou pela quinta vez a Casa Branca nesta sexta-feira (10/02), para reunião com seu homólogo norte-americano Joe Biden.
Durante o encontro, Lula enfatizou o retorno do Brasil ao cenário internacional, após quatro anos de isolamento devido à política exterior ideologizada do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“O Brasil passou quatro anos se automarginalizando, com um presidente que não gostava de manter relações com nenhum país, que menosprezava as relações internacionais. O mundo dele começava e terminava com fake news”, comentou o mandatário brasileiro.
Em seguida, Lula elogiou o discurso realizado por Biden no Congresso dos Estados Unidos, há dois dias, no qual ele defendeu a “união para terminar o trabalho de reconstruir a economia do país. “Foi uma mensagem que cairia muito bem se fosse feita no Brasil”, afirmou o petista.
O presidente do Brasil agradeceu o norte-americano pelo reconhecimento ao resultado das eleições de 2022, e lembrou que ambos tiveram que enfrentar ataques à democracia estimulados por seus respectivos antecessores.
“Nós agora temos alguns problemas que devemos enfrentar juntos, para nunca mais permitir que haja uma nova invasão do Capitólio nos Estados Unidos [em 6 de janeiro de 2021], e que nunca mais aconteça o que vimos recentemente no Brasil, a invasão do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal [em 8 de janeiro passado]”, declarou Lula.
Embora não tenha citado a Ucrânia e a Rússia, o mandatário brasileiro deixou claro que o Brasil defenderá no cenário geopolítico uma postura dialogante para a resolução de conflitos.
“o Brasil não tem contencioso com ninguém. Somos um país em que o povo gosta de paz, de democracia, de trabalhar, de carnaval, de samba e de muita alegria. Esse é o Brasil que queremos recolocar no mundo”, ressaltou.
Ricardo Stuckert
Lula e Biden conversaram na Casa Branca sobre democracia, desigualdade e crise climática, entre outros assuntos
Desigualdade e discriminação
Outro ponto importante da conversa entre Lula e Biden foi a desigualdade. O presidente brasileiro enalteceu as políticas de redistribuição de renda e combate a fome, que pretender retomar no país durante este seu terceiro mandato.
Também lembrou que parte do combate à desigualdade passa pela questão racial, e que os Estados Unidos também enfrentam esse problema.
“Os jovens negros da periferia muitas vezes são vítimas da incapacidade do Estado, porque a violência que existe na periferia é a ausência de um Estado com políticas públicas para garantir sonhos à juventude”.
Política ambiental
Lula também destacou as políticas de combate à crise climática como uma das prioridades do seu novo governo e defendeu uma iniciativa global de proteção da Amazônia como o mais importante bioma do planeta.
“Nós temos um compromisso desde 2009, em Copenhague, quando participei da COP15, em que assumimos o compromisso de reduzir desmatamento em 80% e as emissões dos gases do efeito estufa em 39%, e nós cumprimos isso”, recordou Lula.
O presidente também reconheceu que “nos últimos anos, a Amazônia foi invadida pela irracionalidade política, irracionalidade humana, porque nós tivemos um presidente que mandava desmatar, mandava garimpo entrar nas áreas indígenas e mandava garimpar nas florestas que nos demarcávamos”, mas assegurou que “eu assumi um compromisso de que até 2030 vamos chegar ao desmatamento zero na Amazônia”.
Lula disse que “todos nós temos obrigação de deixar para os nossos filhos e netos um mundo melhor do que o que recebemos. A Amazônia é um patrimônio da humanidade, e nós vamos levar muito a sério essa política [de preservação da floresta e combate ao desmatamento]”.
Sobre as metas de emissão de gases do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global em nível recorde que o planeta vive atualmente, Lula disse que “é preciso que a gente estabeleça uma nova conversa para conseguir uma governança mundial mais forte, que tome as decisões que todos os países podem cumprir, ou então não vai dar certo [alcançar as metas dos Acordos de Paris de 2015]”.
Lula terminou sua declaração dizendo que a luta pela democracia e pela questão ambiental “não é um programa de governo, é um compromisso de fé, de alguém que acredita no humanismo, na solidariedade, na fraternidade”.