Meninos do colégio particular Torrevelo, em Cantábria, Espanha – Divulgação
Meninos e meninas devem estudar em escolas separadas? Para a Secretaria de Educação da comunidade da Cantábria, no norte da Espanha, não. Por isso, na última semana, o órgão decidiu não renovar o convênio que tinha há doze anos com o colégio particular Torrevelo, em Mogro, que aceita somente meninos. Vinculado ao Opus Dei – movimento conservador da Igreja Católica – a instituição possui 300 alunos e é o primeiro a sofrer este tipo de corte na Espanha.
O convênio consiste no repasse de verbas da comunidade da Cantábria às escolas privadas, para que estas ofereçam gratuitamente as disciplinas obrigatórias. Deste modo, os pais pagam apenas pelo transporte e pela merenda dos filhos.
Segundo a nota de imprensa divulgada pela Secretaria de Educação, o colégio Torrevelo “transgride todas as regras vigentes em matéria de admissão de alunos, assim como os princípios e fins que inspiram o sistema educativo espanhol, baseados na igualdade efetiva entre homens e mulheres”. A nota ainda diz que “o ensino deve ser inclusivo e que jamais pode existir nenhum tipo de discriminação por razão de nascimento, raça, religião ou sexo”.
Para a vice-presidente da Comunidade da Cantábria, Dolores Gorostiaga, o dinheiro público não pode ser usado para financiar modelos educativos ultrapassados e prejudiciais, do ponto de vista pedagógico.
Ao Opera Mundi, o diretor do colégio Torrevelo, Gaspar Pérez, disse que a decisão do governo da Cantábria é um atentado contra a liberdade dos pais e completou: “Os pais têm o direito de escolher os colégios que acreditam ser o mais conveniente para os seus filhos”.
O convênio era válido por quatro anos e a suspensão só valerá a partir de 2010. O colégio vai entrar com um recurso na justiça para tentar derrubar a decisão. Se não conseguir, a direção já afirmou que terá que aumentar a mensalidade, o que poderia diminuir o número de alunos. “Sem o convênio com o Estado, o colégio será um pouco mais caro. Então algumas famílias não poderão trazer seus filhos, principalmente aquelas numerosas, que têm vários filhos”.
Meninos de um lado, meninas de outro
O colégio Torrevelo pertence a um grupo educacional espanhol que possui, no mesmo terreno, um colégio exclusivo para meninas, o Peñalabra, que nunca fez parte do convênio. Mas os alunos só se encontram dentro do ônibus, no trajeto de ida e volta pra casa. Os professores também são separados por sexo, ou seja, professores homens para os garotos e mulheres para as garotas. “Os meninos e as meninas são diferentes. Têm capacidades distintas e o que nós fazemos é aproveitar essa maneira distinta que tem de aprender”, disse Gaspar.
“Tenho quatro filhas no Peñalabra e dois filhos no Torrevelo e tenho certeza que este tipo de educação especializada por sexo é o melhor para os meus filhos. Eles já estudaram em escolas mistas e nunca me pediram para voltar a estudar em escolas deste tipo”, conta Ignacio Del Moral, presidente da Associação de Mães e Pais do Colégio Peñalabra.
Para Mercedes Ruiz, mãe de dois alunos do Torrevelo e de uma aluna do Peñalabra, este argumento de segregação é uma desculpa para cortes no repasse das verbas. Ela acredita que o problema está na Secretaria de Educação, que nunca firmou o convênio com o colégio para meninas. “Aí é que está a discriminação porque, até agora, quem tinha filhos homens pagava uma quantia e quem tinha filhas, tinha que pagar mais que o dobro pela mesma escolarização”, afirmou.
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