O negociador do Acordo de Paz de 2016 assinado entre o governo colombiano e a antiga guerrilha Farc, Humberto de la Calle, se manifestou sobre o grupo dissidente da legenda que decidiu retornar à luta armada e afirmou que o agora partido político apoia o processo pacificador e cumprirá com o acordado.
Em nota conjunta divulgada nesta quinta-feira (29/08), De la Calle e Sergio Jaramillo, alto comissário para a paz durante as negociações da guerrilha com o governo, fazem “um chamado a todos os colombianos e colombianas a abrigar e proteger o processo de paz”.
Os negociadores ainda criticaram a postura do presidente colombiano Iván Duque e afirmaram que os ataques realizados pelo governo contribuíram para a resposta do grupo dissidente.
“Lembramos que uma ou outra vez dissemos ao governo nacional que seus ataques permanentes ao processo e os riscos de desestabilização jurídica que implicavam poderiam levar vários comandantes a tomarem decisões equivocadas”, afirmam.
Por nuestra parte reafirmamos nuestra disponibilidad para contribuir en la marcha del proceso de paz con un sentido de altruismo y generosidad pic.twitter.com/i8QT6pZqG0
— Humberto de la Calle (@DeLaCalleHum) August 29, 2019
O comunicado também deixa claro que os negociadores do Acordo de Paz rechaçam “energicamente os anúncios de Iván Márquez”, e reconhecem que “a grande maioria dos homens e mulheres das Farc cumpriram com o acordado e os convidamos a continuar com seu processo de reincorporação à vida civil, que a cada dia está dando mais frutos”.
Para De la Calle, “o governo deve assumir com decisão e critério de Estado a liderança do processo de paz e deixar de atuar com critério de partido como tem feito até agora”.
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Humberto de la Calle criticou postura do presidente Iván Duque
Volta à luta armada
Um grupo de comandantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (FARC-EP) anunciaram nesta quinta-feira (29/08) que irão voltar à luta armada em resposta ao que chamam de “traição do Estado colombiano aos Acordos de Paz”, que foram assinados em Havana em 2016.
Iván Márquez, Jesús Santrich e Hernán Darío Velásquez, conhecido como El Paisa, fizeram o anúncio de que voltariam às atividades guerrilheiras. Márquez, que foi um dos negociadores em Havana, invocou o “direito universal dos povos de se levantarem em armas contra a opressão”.
Ainda nesta quinta-feira, Duque anunciou uma recompensa de 3 bilhões de pesos colombianos (aproximadamente US$ 860 mil) para informações que levam à captura dos guerrilheiros dissidentes.
Aliado político do ex-presidente de extrema direita Alvaro Uribe, que é conhecido por suas políticas de guerra declarada contra as Farc, Duque ainda fez acusações contra o governo da vizinha Venezuela e afirmou, sem provas, que o presidente Nicolás Maduro estaria “escondendo” os guerrilheiros.
“Os colombianos devemos ter clareza de que não estamos diante do nascimento de uma nova guerrilha, mas diante de ameaças criminosas de um grupo narcoterrorista que conta com o apoio e o abrigo da ditadura de Nicolás Maduro”, afirmou.
Caracas desmentiu as informações e afirmou que está ao lado do processo de paz.