É 1h50 da tarde de 1º de fevereiro quando dois jovens deixam um triciclo ao lado da delegacia de Tumaco. Poucos minutos depois, uma explosão devasta os quartéis e vários edifícios ao redor. No dia seguinte, pela manhã, três bombas de cilindro atingem a delegacia do povoado de Villa Rica, no norte do estado de Cauca. Ao mesmo tempo, acontecia uma série de combates por toda a região do Catatumbo, estado de Santander, norte da Colômbia.
Quem reivindica os ataques são os mesmos guerrilheiros das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) que, em um comunicado emitido pelo Comando Conjunto do Ocidente, falam em sete policiais mortos e mais de 50 feridos nas duas operações. O governo do presidente Juan Manuel Santos, por sua vez, fala de uma “estratégia terrorista” que demonstra uma fraqueza das FARC no plano militar, salientando que nos atentados morreram dez civis e que também muitos dos mais de cem feridos não eram policiais.
Efe (22/02/2012)
Antes dedicado à luta contra os neoparamilitares, Santos agora aponta a mira contra a guerrilha colombiana
No entanto, as ações das FARC nas últimas semanas não são apenas “terrorismo”. Em 20 de janeiro, um ataque combinado envolvendo três frentes guerrilheiras destruiu o radar de Santana de El Tambo, Cauca. A estrutura controlava o tráfego aéreo de um terço do país. Atrasos e voos cancelados devem seguir por cerca de um ano.
“Este modo de operar, que consegue concentrar e dispersar ordenadamente uma força significativa sem ser detectada ou neutralizada pelas forças militares, não era vista na guerrilha há vários anos”, afirma ao Opera Mundi o analista em segurança Alfredo Rangel, da entidade Fundação Segurança e Democracia.
Segundo ele, em janeiro de 2012, houve um volume de ações das FARC comparável ao mesmo mês em 2004 – ano de violência recorde – e é quase o triplo das ações no mesmo período em 2007 e 2008. Em 2011, foram registradas mais de duas mil ações das FARC, 263 das quais na região do Catatumbo, onde a guerrilha está unindo tropas para defender “Timochenko”, substituto de Alfonso Cano.
Como resultado destes enfrentamentos, entre janeiro e outubro de 2011, 2.235 membros da força pública ficaram fora de combate; nos últimos três anos a cifra cresceu para seis mil.
León Valencia, diretor do think tank Nuevo Arco Iris, confirma os dados: “é o mês de janeiro mais violento dos últimos oito anos. Mas a culpa não é só da guerrilha, mas também dos neoparamilitares. O grupo Urabeños se deu ao luxo de instigar uma paralisação armada que alcançou 26 municípios em seis estados, incluindo bairros de Medellín e Santa Marta. Tudo em retaliação à morte de um de seus chefes. As FARC desataram uma onda de terror e chegaram à cifra de 156 ações no mês. É um indício de que 2012 poderia dar continuidade à configuração de um novo ciclo de violência no país, em curso desde 2008”.
Motivos
A explicação para essa intensificação do conflito está ligada ao passado recente da guerrilha e ao crescimento expressivo dos neoparamilitares. As FARC sofreram, sob o atual governo, os golpes mais duros de sua história, como a morte de Mono Jojoy, o mais importante comandante militar e a do chefe máximo Alfonso Cano. Mas, segundo Ariel Ávila, pesquisador do Nuevo Arco Íris, se trata de “um golpe mais político do que militar, uma propaganda para a opinião pública”.
Divulgação/Corporación Nuevo Arco Iris
Valencia: “é o mês de janeiro mais violento dos últimos oito anos. Há um novo ciclo de violência no país”
De acordo com ele, porém, “as FARC, com Cano, fizeram uma mudança de estratégia, voltando a uma guerra de guerrilhas clássica, rompendo as grandes frentes em pequenas unidades que atuam com emboscadas e explosivos, e agora esta estratégia está dando resultados.”
No entanto, os analistas da Nuevo Arco Iris concordam que os Urabeños chegaram a perigosos níveis de presença e controle territorial, tornando-se o principal gerador de violência no país. “As gangues criminosas consolidaram sua presença em 209 municípios e igual no ano anterior, registram mais ações ilegais e violentas que as mesmas guerrilhas”, diz Valencia.
Diferentemente dos velhos grupos paramilitares, os novos estão dispostos a entrar em acordo com as guerrilhas para o controle das rotas do narcotráfico. Segundo os dados da Nuevo Arco Iris, os Rastrojos e os Urabeños são os grupos que mais cresceram, apesar do conflito existente entre eles.
Angélica Arias Ortiz, outra pesquisadora da mesma instituição, acredita que, “se o governo não se ocupar com empenho na erradicação dos neoparalimitares, com tudo o que geram, como corrupção das forças armadas e de funcionários públicos, o problema em 2012 continuará crescendo, como ocorreu nos últimos cinco anos”.
Na opinião de Valencia, o governo de Santos começou bem. “Ele definiu os neoparamilitares como a principal ameaça de segurança e tentou desenhar uma estratégia para combatê-las”. No entanto, por culpa das críticas do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, de que não estaria dando atenção à luta contra a guerrilha, “o governo retrocedeu e voltou a se concentrar na perseguição às FARC”.
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