“Eu tenho um sonho a 200 e tantos quilômetros, entre Granada e San José del Guaviare. A chuva, o solo, tudo indica que o lugar é apto para [produção da] palma africana. Em vez de coca, ter na Colômbia plantações gigantes de palma africana, não somente para produzir óleo, mas também diesel biológico (biodiesel), que é o futuro do mundo […] Há que semear palma africana a toda hora. Que não se passe um dia sem semear palma africana”. Assim falava o presidente colombiano, Álvaro Uribe, em dezembro de 2004. O desejo se tornou realidade. Hoje, o país andino vem acumulando tanta experiência em biodiesel que se configura como o segundo maior produtor regional, depois do Brasil, e já exporta conhecimento para outros países.
Agrocaribe
Plantação de palma africana na América Central
O governo de Uribe recomendou à empresa Corpoica a construção de uma fábrica de biodiesel em Puerto Chiapas, no México, cujas obras começaram nesta semana. Em entrevista ao Opera Mundi, o diretor-executivo da companhia, Arturo Enrique Vega Varón, disse que, há dois anos, no âmbito do projeto Mesoamerica (antes conhecido como o plano Puebla-panam, um programa de integração regional e desenvolvimento para o sul do México e países da América Central), o governo colombiano ofereceu ajuda no setor de agrocombustível para os países da América Central. “Isso levou à construção de duas fábricas, uma em Honduras e outra em El Salvador. La Mexicana será a terceira fábrica que vamos implantar no exterior com tecnologia colombiana”.
Segundo informou ao Opera Mundi um outro funcionário da empresa, que pediu anonimato, desde 2007 o governo encarregou a Corpoica de tratar o tema da produção de agroenergia em pequena escala para analisar a viabilidade técnica e econômica deste tipo de negócio.
Com isso, a fábrica de Puerto Chiapas será destinada para produção em pequena escala, com capacidade de 20 mil litros diários de combustíveis a um custo de dois milhões de dólares. “Isso não é nada, se comparado a uma fabrica de grande escala que tem um custo aproximado entre 50 e 75 milhões de dólares e que pode produzir até 350 mil litros de biodiesel diariamente”, diz o funcionário.
Na Colômbia coexistem fábricas de várias capacidades e se espera que, para o fim de 2009, o país seja capaz de produzir por volta de 791 mil litros de biodiesel por dia.
Agrocaribe
Fruto da palma africana
Cooperação com México, exemplo do Brasil
O acordo entre Álvaro Uribe e o presidente do México, Felipe Calderón, é parte das soluções que o governo mexicano está adotando para solucionar seus problemas energéticos. O México é o sexto maior produtor de petróleo no mundo, mas está experimentando uma queda da produção e a ameaça de que suas reservas poderiam acabar em uma década.
Além dos acordos com a Colômbia, Calderón quer vincular a estatal Pemex com a brasileira Petrobras, que o mandatário classificou como “exemplo” para todos os países da região.
Na última década, a estatal brasileira passou de uma produção diária de 800 mil barris de petróleo para aproximadamente dois milhões de barris diários, enquanto a Pemex reduziu, no mesmo período, a produção de 2,6 milhões de barris diários para quase dois milhões na atualidade.
A Petrobras também decidiu entrar no mercado dos biocombustíveis e, em janeiro passado, anunciou um investimento de 174,4 bilhões de dólares em cinco anos, dos quais 2,8 serão em biocombustíveis, cifra que representa 16% dos aportes totais brasileiros no setor. A Petrobras, além disso, possui tecnologia para buscar petróleo em águas profundas, o que interessa muito à Pemex, defasada neste tipo de pesquisa.
Se, por um lado, a geopolítica dos agrocombustíveis é um instrumento do uribismo para não se deixar isolar demasiadamente na região e para estreitar relações com o Brasil, por outro, países como a Venezuela criticam a utilização de grandes extensões territoriais para produção de combustíveis. O governo de Hugo Chávez considera que isso pode ter um impacto negativo nos preços dos alimentos e destruir a biodiversidade das áreas semeadas.
Camponeses expulsos
Documentos da Promotoria e depoimentos de ex- paramilitares demonstram que algumas das empresas de palma africana tiveram fortes vínculos com grupos paramilitares ilegais que massacraram e expulsaram camponeses no departamento (estado) de Chocó, em 1997. O governo colombiano ordenou a restituição de 15 mil hectares aos camponeses expulsos. Até hoje foram devolvidos 1.200.
“Não digo que todas as companhias têm ligação com paramilitares, mas algumas delas estão diretamente relacionadas”, disse Victor Abramovich, chefe da delegação da Organização dos Estados Americanos (OEA) que visitou a região.
Don Petro é um dos camponeses que voltou para casa. Tem nos olhos pequenos e azuis 70 anos cumpridos, barba desgrenhada e branca e usa um grande chapéu de palha. Suas mãos são negras como a terra que cultiva, endurecidas pelo trabalho. Don Petro vivia naquela terra há 40 anos. Fala dos animais, do milho que cultivava, da vida de agricultor com a mulher e os filhos, do sonho de trazer luz elétrica até sua casa. A luz não chegou nunca. No lugar, os paramilitares chegaram em 1996. Acusaram-no de ser guerrilheiro, fizeram ameaças de morte a ele e à família. Escaparam. Mas sua família não quis voltar e, hoje, ele vive sozinho no que agora é o fantasma de sua antiga casa. Mataram seus animais, levaram a terra, destruíram o sistema hidráulico que recolhe a água da chuva, roubaram o motor elétrico. “Esta palma africana está plantada nas minhas terras de forma ilegal, sem permissão”, contou. “Mataram famílias, filhos, amigos e vizinhos para plantar. Esta palma está plantada sobre o sangue”.
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