Dentre as mudanças provocadas pelos atentados de
11 de Setembro de 2001, o redesenho da agenda internacional é uma das mais
emblemáticas. Conflitos até então tidos como relevantes para a Casa Branca e
para os grandes grupos de comunicação foram
relagados a uma posição secundária ou a uma intencional invisibilidade.
Clique na imagem acima para acessar o especial completo do Opera Mundi
No
contexto russo, a Chechênia é o caso mais nítido desta mudança de foco. “Qualquer
discussão sobre as atrocidades do exército russo passou a ser vista como algo
pequeno diante da nova cruzada do governo de [Gerorge W.] Bush”, afirmou
ao Opera Mundi Martha Brill Olcott, do Carnegie Moscow Centre.
O eterno dilema russo do Ocidentalismo versus Orientalismo se resolveu com a
possibilidade de uma multivetorialidade da política externa. Moscou se
beneficiou com a nova postura euro-atlântica após os atentados, conseguindo
incentivos por parte dos líderes ocidentais no seu processo de entrada na OMC (Organização
Mundial de Comércio) – ainda não finalizado –, além do abrandamento das
críticas de grupos de direitos humanos na Chechênia.
SILÊNCIO ESTRATRÉGICO: Putin apoiou Bush no pós-11 de setembro e ganhou maior autonomia para lidar com a questão chechena
De acordo com o analista
canadense Kari Roberts, da Universidade de Calgary, certos aspectos da política
internacional russa são “uma reação à atitude imperialista norte-americana
no contexto global” e “um resultado da crise de identidade do país
após a União Soviética”.
Leia mais:
Líder de guerrilha chechena reivindica atentado em aeroporto de Moscou
Líderes mundiais condenam atentado terrorista em Moscou
Presidente russo responsabiliza aeroporto por atentado em Moscou
Explosão deixa dezenas de mortos no principal aeroporto de Moscou
Atentado no aeroporto de Moscou pode ter sido provocado por guerrilha do Norte do Cáucaso
Não foi sem razão que o então presidente Vladimir Putin (atual
primeiro-ministro) foi o primeiro líder mundial a ligar para o ex-presidente
George W. Bush após os atentados. Putin prontamente organizou um plano de apoio
à guerra dos EUA a contra o terrorismo, colaborando com informações militares e
abrindo o espaço aéreo para as incursões norte-americanas. A cooperação anti e
contraterrorista estabelecida após o 11 de Setembro fez da Rússia um importante
aliado dos EUA na luta internacional contra a “ameaça terrorista”.
As operações militares contra o regime talibã do Afeganistão só foram possíveis
graças ao sinal verde dado pela Rússia para o desembarque norte-americano no
Tajiquistão e no Uzbequistão. Em troca, a Rússia conseguiu que os EUA
qualificassem vários grupos separatistas chechenos como grupos terroristas
internacionais, provando inclusive a existência de vínculos entre combatentes e
terroristas internacionais. Estrategicamente, a Rússia conseguiu associar o 11
de Setembro à política interna do pais, colocando a ameaça do fundamentalismo
islâmico interno na Chechênia como parte da luta mundial contra o terrorismo.
A aparente melhora das relações russo-americanas depois do 11 de Setembro
esconde um jogo de conveniências onde os EUA contam com o apoio estratégico
russo para avançar na Ásia Central e a Rússia conta com o silêncio norte-americano
no que diz respeito às ações militares na Chechênia, legitimando os ataques do
exército russo. O governo Bush, antes crítico às ações do Kremlin na república
do Cáucaso, mudou o tom e incluiu tais ações na cruzada anti-terror.
TERROR: Vítimas do atentado checheno a escola em Belsan, na Ossétia do Sul; 344 pessoas morreram
Siga o Opera Mundi no Twitter
Conheça nossa página no Facebook
NULL
NULL
NULL