O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar o “problema” da alta de juros no Brasil, em discurso no Fórum Empresarial Brasil-Portugal, realizado em Matosinhos, na região do Porto, em Portugal. Cerca de 200 empresários dos dois países participaram do evento nesta segunda-feira (24/04), penúltimo dia da viagem do petista ao país europeu.
“Está muito alta. Ninguém toma dinheiro emprestado a 13,75”, disse Lula, referindo à taxa básica da Selic determinada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central. “Não existe dinheiro mais barato, e a verdade é que um país capitalista precisa de dinheiro, e esse dinheiro tem que circular não apenas na mão de poucos, mas na mão de todos”, argumentou Lula, antes de defender a inclusão dos “pobres no orçamento” para manter “a roda gigante da economia funcionando”.
“Quando eles virarem consumidores, eles vão comprar. Quando eles comprarem, o comércio vai vender”, disse. “Não precisa importar da China: podem comprar os produtos produzidos no Brasil e a gente vai gerar mais emprego”, alegou. “Nós já fizemos isso uma vez e vamos fazer outra vez.”
'Brasil não venderá empresas públicas'
O presidente também criticou a privatização da Eletrobras durante o governo de Jair Bolsonaro, revelando que a transação, no valor de US$ 36 bilhões, resultou no aumento dos salários da diretoria da companhia para “R$ 300 mil”, valor que seria cinco vezes superior ao praticado antes da venda.
“Nós não vamos vender empresas públicas. O que nós queremos é convidar os empresários a fazerem parcerias conosco naquilo que a gente precisa criar de novo”, explicou.
Lula voltou a insistir no projeto de dobrar o comércio bilateral com Portugal, que atualmente é de US$ 5,3 bilhões, e afirmou que o país europeu tem potencial pode se tornar um parceiro do Brasil na sua reindustrialização. O petista avaliou que Lisboa não precisa ser vista como uma mera porta de entrada do comércio do Brasil com a União Europeia.
“Sempre se tratou Portugal como um país pequeno. (…) E nada melhor do que a gente estabelecer uma relação com Portugal e daqui a gente produzir os produtos juntos e depois, de Portugal, se exportar esses produtos para os países europeus. É muito mais fácil e mais simples para nós”, comentou.
Ricardo Stuckert
Cerca de 200 empresários dos dois países participaram do evento na região do Porto, em Portugal
No sábado (22/04), o presidente anunciou a abertura de uma agência da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) em Lisboa, além da que já existe em Genebra. Pela manhã, diante dos empresários, ele prometeu impulsionar uma cooperação “voltada para o futuro”, sobretudo nas áreas de tecnologia, energias renováveis, mobilidade urbana e saúde. Lula ressaltou o “imenso potencial solar e eólico” no Brasil para parcerias com Portugal – que já atua no setor, em especial a EDP, no Nordeste.
Impulso nos negócios
Mais cedo, o mesmo evento, o primeiro-ministro português, António Costa, destacou que “agora que o Brasil voltou, não vamos deixar o Brasil sair”. Desde o começo da viagem de Lula a Portugal, os dois líderes têm chamado a atenção para os prejuízos dos anos de Jair Bolsonaro para as relações bilaterais – inclusive comerciais, que “estagnaram”, segundo Jorge Viana, presidente da Apex.
Viana destacou o potencial de negócios desperdiçado durante o período, e saudou a reaproximação com Portugal como um “momento histórico”. “Essa ausência custou muito caro para Portugal e para o Brasil”, lamentou. Ele disse que desde os primeiros mandatos de Lula, o fluxo comercial subiu de US$ 700 milhões para US$ 2,7 bilhões. Desde então, relembrou, “houve um crescimento, mas foi muito vinculado a exportação de petróleo e não manufatura”.
Depois do evento, os dois líderes embarcam de volta a Lisboa a bordo de um cargueiro KC 390 Millenium da Embraer, um dos cinco aviões encomendados por Portugal e fabricados no país europeu. A expectativa é que Lula e Costa anunciem a ampliação da parceria, com a compra de aeronaves Super Tucano.
De volta à capital, Lula participa nesta tarde da entrega do prêmio Camões de Literatura portuguesa para o escritor Chico Buarque, ponto alto da viagem, em cerimônia no Palácio Queluz.