A volta do Palestino a uma competição internacional foi sofrida, mas exitosa. O clube que representa a maior comunidade de palestinos fora da Europa estreou na fase preliminar da Copa Libertadores da América diante de uma das equipes mais tradicionais do torneio, o Nacional de Montevidéu, e venceu por 1×0, em Santiago do Chile.
Com a vitória nesta quinta-feira (05/02), o clube, fundado em 1920 por imigrantes árabes, pode até perder no jogo de volta por um gol de diferença, desde que consiga o gol de visitante, para se classificar à fase de grupos da competição. A façanha, se alcançada, não será comemorada apenas em Santiago. Muito longe dali, em Gaza e na Cisjordânia, vários grupos de palestinos se reuniram durante a madrugada para assistir a partida, em telões instalados pelo Bank of Palestine — que também estampa seu nome na camiseta do clube chileno.
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Agência Efe
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Um desses telões foi instalado num salão do campo de refugiados de Beishe, em Belém, e reuniu dezenas de torcedores, que vibraram com o gol de Diego Rosende, aos 25 minutos do segundo tempo, decretando a vitória do Palestino. Entre os espectadores em Beishe estava Xavier Abu Eid, chileno que trabalha como assessor comunicacional da Autoridade Nacional Palestina. Em entrevista para o jornal chileno La Tercera, Abu Eid afirmou que houve até a intenção de instalar os telões em locais abertos, “mas não houve tempo, a ideia surgiu de última hora, quem sabe para o jogo de volta, agora que temos esperança de classificar pelo bom resultado do primeiro jogo”.
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O assessor também confirmou que no campo de Aida, nos arredores de Belém, alguns palestinos propuseram a projeção do jogo sobre um dos muros levantados por Israel, ideia que foi rejeitada por razões de segurança, por entender que poderia ser tomada como uma provocação. “Temos que pensar na segurança das pessoas que querem ver o jogo, e lembrar que até mesmo isso é difícil. As pessoas que saem de madrugada aqui se arriscam muito, porque Israel realiza dezenas de pequenas invasões diárias ao território palestino”, comentou Abu Eid.
Por parte do clube Palestino também houve palavras de agradecimento aos torcedores no Oriente Médio. O argentino Pablo Guede, treinador do time, disse após o jogo que “é um orgulho para nós saber que temos muitos torcedores acompanhando a gente mesmo estando tão longe, e a luta deles serve de inspiração para o nosso elenco”.
[Goleiro do Palestino, Darío Melo, comemora gol do companheiro Diego Rosende, na vitória sobre a equipe uruguaia]
Futebol palestino
O Palestino é um dos clubes mais antigos do Chile. Foi fundado em 1920, por imigrantes árabes, e possui quatro títulos nacionais: duas Copas do Chile, em 1975 e 1977, e dois Campeonatos Chilenos, em 1955 e 1978 – este último, conquistado com a ajuda do zagueiro e capitão Elias Figueroa, um dos maiores nomes da história do futebol chileno, rendeu uma vaga na Copa Libertadores de 1979, a última disputada pelo clube, há 36 anos.
Em 2014, o clube causou polêmica ao utilizar uma camiseta que trazia um mapa do território palestino histórico em forma de número 1, nas camisetas de alguns jogadores.
A participação do Palestino na Copa Libertadores não é, entretanto, a única façanha futebolística deste 2015. Em janeiro, a seleção da Palestina participou pela primeira vez em um torneio de nações, a Copa da Ásia, disputada na Austrália. A equipe fez parte do Grupo D da competição, e perdeu os três jogos que disputou: 4×0 para o Japão, 5×1 para a Jordânia e 2×0 para o Iraque. Ainda assim, a participação em si já foi considerada um feito, conquistada após eliminar, na fase de classificação, adversários como Filipinas, Afeganistão e Maldivas.