A visita que começa nesta terça-feira é a quarta de Luiz Inácio Lula da Silva a Cuba como presidente. Um presidente que tem um “empenho pessoal” para dinamizar o comércio bilateral e uma “relação muito fluida” com a ilha, na definição do embaixador brasileiro no país, Bernardo Pericás. Durante seu governo, as trocas comerciais evoluíram de 92 milhões de dólares em 2003 para quase 600 milhões em 2008, antes que a crise econômica afetasse seriamente o país caribenho, que viu despencar o preço do seu principal produto de exportação, o níquel. Além disso, três ciclones destruíram parte da ilha naquele ano.
Como resultado, as exportações do Brasil caíram 47% em 2009, de 526 para 277 milhões de dólares. No meio do ano, foi criado o Grupo de Trabalho Brasil-Cuba, que trata de parcerias comerciais e incentiva projetos de longo prazo, com investimentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
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Desde então, o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, já viajou à ilha duas vezes. Esta será a terceira. Além disso, em outubro de 2008 foi instalado em Havana o quinto escritório internacional da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) – os outros são em Pequim, Miami, Dubai e Varsóvia.
“Nosso propósito é atrair negócios, para que os brasileiros tenham interessem em vir a Cuba e buscar segmentos de mercado para seus produtos”, diz Hipólito Rocha, diretor da Apex em Havana. “Cuba está tratando de fazer cada vez mais negócios, mais convênios e parcerias conosco. Está muito voltada ao Brasil”.
“Há muito interesse da parte cubana de haver participação brasileira na economia”, reforça o embaixador Bernardo Pericás. “Por outro lado, aumentou o conhecimento de Cuba no Brasil também. Essas viagens presidenciais têm esse efeito”.
Segundo Hipólito Rocha, o contrato entre o laboratório farmacêutico EMS e a Quimefa, a estatal cubana de biotecnologia, que será assinado durante esta visita, deve ser visto como um passo fundamental na estratégia brasileira. A ideia é formar um fluxo de caixa entre os dois países que pode dar respaldo a futuros negócios.
Segundo ele, um dos grandes problemas da ilha é a falta de garantias, já que elas não são aceitas em bancos e instituições internacionais. Além disso, no último ano o país enfrentou uma crise de liquidez por conta da redução do preço do níquel e acabou tendo que protelar pagamentos a empresas.
Genéricos
O acordo a ser assinado durante a visita de Lula vai expandir contratos já firmados entre a EMS e o Estado cubano, no valor de 100 milhões de dólares. Inclui a fabricação em território brasileiro do spray Salbutamol, utilizado no combate à asma, e a venda de medicamentos genéricos a Cuba, além de investimentos em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos através de uma empresa mista sediada no Brasil.
“Essa área de biotecnologia é muito importante. Este ano, os medicamentos vão ser o principal tipo de produto de exportação cubano”, diz Hipólito, que tem atuado como negociador para a empresa brasileira.
Será formada uma empresa mista entre a Quimefa e a EMS, para produção e desenvolvimento de produtos no Brasil, que podem ser exportados para 20 países. Hipólito conta que a EMS e o governo brasileiro também têm interesse em medicamentos contra o câncer e para cicatrização de feridas de diabéticos, produzidos em Cuba, e que a EMS pode, em troca, vender vitaminas ao país.
“Somos líderes no mercado farmacêutico e agora precisamos desenvolver plataformas onde ainda começamos a caminhar, como como biotecnologia e biofarmacêuticos, e nisso Cuba tem uma experiência incrível. É uma parceria muito promissora e duradoura”, diz Telma Salles, diretora de Relações Externas da EMS, confirmando que um dos propósitos do pacto a ser assinado é demonstrar respaldo governamental à parceria. “Será um acordo mais institucional do que comercial”.
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