A divisão do Egito entre a minoria cristã copta e a junta militar que governa o país se mostrou evidente nesta segunda-feira (10/10) com as manifestações contra o Exército que tomaram as ruas da capital Cairo.
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Ao grito de “o povo quer a queda do marechal Hussein Tantawi”, milhares de pessoas pediram a renúncia do chefe do Conselho Supremo das Forças Armadas, que dirige a nação norte-africana desde a queda do regime de Hosni Mubarak, em fevereiro passado.
O funeral celebrado nesta segunda-feira no Cairo pelos mortos na noite deste domingo, durante os enfrentamentos entre militares e coptas, se transformou num protesto carregado de ira contra as Forças Armadas.
A queima de uma igreja em Edfu, no sul do país, foi a origem da concentração de ontem à noite às portas do edifício da radiotelevisão pública egípcia. Os coptas alegam que foram atacados por grupos do Exército e pistoleiros.
“Por que no Egito todos podem manifestar-se menos nós? Como iríamos atacar o Exército se não fizemos isso antes?”, gritava desconsolada Asisa Feiz, vestida de luto nas portas do Hospital Copta, onde se encontra a maioria dos mais de 300 feridos e as vítimas fatais, que segundo fontes oficiais chegaram a 25, sendo pelos menos 20 de civis. Várias organizações da minoria, no entanto, denunciam que o número de mortos é até maior.
Os gritos de desconsolo dos parentes e as lágrimas dos amigos dos falecidos se misturavam com as palavras de ordem dos manifestantes, que às portas do hospital, pediam explicações à junta militar.
Um dos manifestantes, que não quis se identificar, disse que “os muçulmanos destruíram muitas igrejas e as autoridades nunca fizeram nada só porque somos cristãos. Nos consideram cidadãos de segunda categoria”.
Em resposta as reivindicações coptas, o Conselho de Ministros, reunido de urgência, apresentou nesta segunda-feira um projeto de lei para “legalizar a situação dos templos sem licença”, segundo a agência oficial do governo.
Os dirigentes militares afirmaram em comunicado que os incidentes da véspera foram “tentativas de destruir os pilares do Estado e propagar o caos para impedir a transição democrática desejada”, sem explicar quem estaria por trás das ações.
Os militares asseguraram que permanecerão no poder até as eleições presidenciais, que ainda não têm data definida, e afirmaram que não responderão “às tentativas de se criar discórdia entre as Forças Armadas e o povo”. Isto “poderia ter efeitos perigosos sobre a segurança nacional”, segundo o Conselho, que tomará “todas as medidas necessárias para controlar a situação e proteger a segurança do país”.
Além disso, a junta militar determinou que o Conselho de Ministros crie uma comissão para investigar os fatos. O órgão se comprometeu também a esclarecer as circunstâncias sobre o incêndio da igreja que originou os enfrentamentos.
Por sua parte, a Irmandade Muçulmana assegurou que “não é o momento adequado” para que os coptas se manifestem e pediu “paciência” aos cristãos, que representam dez por cento da população do país.
“Todo o povo egípcio tem suas reivindicações legítimas e não só os irmãos coptas. Este não é o momento adequado para reclamá-las porque o governo atual é provisório e a situação geral não é natural”, afirmou a organização
Enquanto isso, algumas organizações que protagonizaram a revolução que acabou com o regime de Hosni Mubarak alertaram sobre o risco da junta militar se perpetuar no poder por conta da instabilidade que vive o Egito.
O Movimento 6 de Abril lamentou que “a junta militar siga os mesmos passos que Mubarak e procure tranquilizar a situação sem conseguir erradicar os problemas do país”.
Os distúrbios de ontem à noite são os mais graves que vive o Egito desde a Revolução do 25 de Janeiro e trazem à tona a fragilidade da transição no país.
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