O Congresso dos Estados Unidos aprovou na quarta-feira (13/12) a abertura formal de um inquérito de impeachment contra Joe Biden, motivado por atividades controversas de seu filho no exterior, e descrito como um “golpe político infundado” pelo presidente. O procedimento quase não tem chances de sucesso, mas pode transformar-se numa dor de cabeça para a Casa Branca antes das eleições presidenciais de novembro de 2024, às quais, Joe Biden é candidato.
Os conservadores, maioria na Câmara dos Representantes desde janeiro, acusam o líder democrata de ter usado a sua influência quando era vice-presidente de Barack Obama (2009-2017) para permitir que o seu filho fizesse negócios questionáveis na China e na Ucrânia.
“Joe Biden mentiu repetidamente ao povo norte-americano”, acusou o chefe do comitê de investigação da Câmara, James Comer, da Câmara.
O presidente, os democratas e Hunter Biden negam essas acusações.
Os republicanos “estão optando por perder tempo com um esquema político infundado”, acusou Joe Biden após a votação. “Em vez de trabalhar para melhorar a vida dos norte-americanos, a prioridade deles é me atacar com mentiras”, disse ele num comunicado.
“Erros”
“Meu pai nunca esteve envolvido financeiramente em meus assuntos”, já havia descartado Hunter Biden, que se tornou um alvo privilegiado da direita, durante uma rara entrevista coletiva na manhã de quarta-feira.
Presente no Congresso norte-americano, o filho do presidente, com um passado marcado por vícios e indiciado em dois casos pelos tribunais, admitiu ter cometido “erros” na sua vida.
Mas acusou “os trumpistas” de tentarem “desumanizá-lo”, de “prejudicar” o seu pai. Por essa razão, recusou-se a participar numa audiência a portas fechadas organizada pelos republicanos, que o convocaram para comparecer no Capitólio.
O presidente de 81 anos sempre apoiou publicamente Hunter Biden, repetindo muitas vezes que tem “orgulhoso” dele.
Wikicommons
“Respostas ao povo norte-americano”
Uma investigação de impeachment, há muito exigida por responsáveis eleitos próximos de Donald Trump, contra quem Joe Biden poderá enfrentar em 2024, já tinha sido aberta contra o presidente democrata no meio do ano.
Foi até mesmo organizada uma primeira audição parlamentar sobre o assunto no final de setembro, durante a qual os especialistas entrevistados concordaram que não havia naquele momento nada que justificasse um indiciamento do presidente Biden.
“Não há evidências de que o presidente Biden tenha cometido qualquer irregularidade”, acrescentou o líder democrata da Câmara, Hakeem Jeffries, na quarta-feira.
Os republicanos, no entanto, acreditam que com a abertura formal da investigação, poderão ter mais espaço para manobras e, portanto, novas possibilidades para incriminar o líder democrata.
“Chegou a hora de dar respostas ao povo norte-americano”, disse o presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, na quarta-feira após a votação.
Trump sofreu tentativa de impeachment duas vezes
A Constituição dos EUA prevê que o Congresso pode acusar o presidente por “traição, suborno ou outros crimes graves e contravenções”.
O procedimento ocorre em duas etapas.
Depois de realizar a investigação, a Câmara dos Deputados vota, por maioria simples, pontos de acusação detalhando os fatos alegados contra o presidente: é o que se chama “impeachment” em inglês.
Se a acusação chegar a ser votada, o Senado, levaria então o presidente a julgamento. No entanto, muito provavelmente seria absolvido, sendo o partido de Joe Biden maioria no Senado.
Nunca um presidente foi destituído na história norte-americana. Três sofreram processo impeachment: Andrew Johnson em 1868, Bill Clinton em 1998 e Donald Trump em 2019 e 2021. Mas todos foram finalmente absolvidos.
Richard Nixon preferiu renunciar em 1974 para evitar uma provável destituição pelo Congresso devido ao escândalo Watergate.