Nos últimos 24 anos o mundo vivenciou uma tendência de melhoria nos IDHs (Índices de Desenvolvimento Humano). Em geral, os 40 países em desenvolvimento, que reúnem a maior parte da população mundial, avançaram em todas as áreas e houve uma progressiva diminuição entre as nações ricas e pobres, como aponta o ranking do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgado nesta quinta-feira (24/07).
Mariane Roccelo/Opera Mundi
A afirmação é baseada no fato de que os países desenvolvidos apresentaram uma estagnação nos quesitos avaliados pela organização, enquanto os subdesenvolvidos avançaram. Apesar do avanço, não há o que comemorar, assinala o relatório. Isso porque ainda há cerca de 1,2 bilhão de pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia e 1,5 bilhão que vivem em situação de pobreza multidimensional — índice que leva em conta questões para além da economia e considera as variáveis das privações de direitos sociais.
Além disso, 80% da população mundial não contam com proteção social integral e 12% padecem de fome crônica. Quase metade dos trabalhadores, ou seja, 1,5 bilhão têm empregos informais ou precários.
A metodologia da pesquisa foi contestada pelo Brasil. O governo afirmou hoje que os dados utilizados pelo Pnud estão defasados, o que o prejudicou em 12 posições e o faria saltar do 79º para o 67º lugar no ranking. Isso porque a expectativa de vida ao nascer no país, que é levada em conta no IDH, está em 74,8 anos, mas o estudo levou em consideração dados de 2010 – 73,9 anos.
Conheça abaixo a situação de cinco países destacados por Opera Mundi por diferentes motivos.
1) Zimbábue
O país que ganhou mais posições no índice não possui economia vibrante, nem apresenta possibilidade de entrar para a relação de países desenvolvidos. A proeza do Zimbábue, que o fez avançar quatro pontos na avaliação, consistiu no aumento da expectativa de vida de sua população em 1,8 ano entre 2012 e 2013.
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Apesar do avanço nos índices, Zimbábue ainda é um dos piores países do mundo em desenvolvimento humano
Com economia movida pela venda de commodities e diamantes, o país, na 156ª posição do ranking, possui 80% de seus trabalhadores sem emprego formal. Os 10% mais ricos do país representam 40,42% da economia, enquanto os 10% mais pobres apenas 1,97%.
Apesar da política de distribuição de terras implantada pelo presidente Robert Mugabe em meados dos anos 2000, a má administrada distribuição — que não conseguiu democratizar o acesso, ainda nas mãos da elite branca local — somada a secas e queda do financiamento externo colocou o país em uma ampla crise econômica.
2) Líbia
Prova da fragilidade do índice, a Líbia, que em 2012 subiu 23 posições no ranking mesmo estando em guerra civil, neste ano caiu quatro postos, representando a maior queda entre os 187 países pesquisados.
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As mulheres conquistaram papel de destaque no novo processo político líbio
Ainda assim, o país africano está entre os que ostentam um IDH alto. Na 55ª posição, tem os melhores índices da África. No ranking de igualdade de gênero do Pnud, a Líbia ocupa a 40ª posição, à frente do Brasil, na 85ª posição
3) Geórgia
Elogiado pela ONU por ser exemplo de como evitar retrocessos nos indicadores sociais devido à adoção de programas de redistribuição de renda, como o Bolsa Família, e políticas de inclusão, como a adoção de cotas para o ingresso em universidades, o Brasil ocupa o 79º lugar no ranking mundial. Na mesma posição está a Geórgia, situada na fronteira entre a Europa e a Ásia, que luta para se recuperar dos danos provocados pela Guerra na Ossétia do Sul em 2008.
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Após a guerra, o país teve que recorrer ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial, o que não impediu que a economia continuasse experimentando déficit orçamentário devido à impossibilidade de obter recursos fiscais por impostos. A economia gira em torno do turismo no mar Negro e da produção de uva, chá e cítricos. Entre os problemas enfrentados no âmbito econômico destacam-se a evasão tributária e a corrupção.
4) Tunísia
A Tunísia é apontada pelo relatório como um país que busca lidar com a transição pós Primavera Árabe. “A violência política esporádica não inflamou as tensões, mas partidos seculares e islâmicos encontraram maneiras de trabalharem juntos dentro de um quadro político pluralista”, diz o documento.
Pioneiro nas manifestações ocorridas no mundo árabe, o país ostenta o segundo melhor IDH da África. Quatro anos após os protestos, a nova Constituição adotada é um meio termo entre um regime democrático e o islã político.
5) China
A segunda economia do mundo ocupa o 91º lugar do ranking. Nos últimos anos, a China conquistou importantes avanços sociais, o que se reflete na alta de dois postos. Em 1982, o índice de mulheres alfabetizadas era de 51%, chegando a 92% em 1997. Além disso, no final de 2013, 99% da população rural chinesa tinha acesso ao sistema de saúde do país, como aponta o estudo do Pnud.
Além do aumento da alfabetização, o país apresentou melhoria na expectativa de vida e no padrão de vida dos chineses médios, o que é visto pelo governo como um progresso tangível em matéria de direitos humanos, um dos pontos mais criticados de sua política interna.