Após o seu partido ter conquistado ampla maioria nas eleições legislativas de domingo (25/06), o líder da direita grega, Kyriakos Mitsotakis, fez nesta segunda-feira (26/06) o juramento para começar um novo mandato como primeiro-ministro. A cerimônia oficial ocorreu no palácio presidencial, onde o chefe de governo, de 55 anos, se manifestou perante autoridades da poderosa Igreja Ortodoxa, segundo a tradição grega.
O conservador Kyriakos Mitsotakis venceu com folga as eleições legislativas na Grécia apostando na recuperação econômica de seu país. Porém, ele é criticado por sua posição sobre a questão migratória e agora terá que governar reunindo diferentes demandas da sociedade.
“Estamos começando um trabalho árduo para grandes reformas”, disse o primeiro-ministro, após ser recebido pela presidente grega, Katerina Sakellaropoulou. “Estou empenhado em implementar grandes mudanças. Temos uma maioria parlamentar confortável para fazer isso”, comemorou o chefe de governo.
Primeiro-ministro de 2019 até ao fim de maio, o líder da Nova Democracia (ND) irá reassumir o cargo depois que seu partido de centro-direita obteve 157 das 300 cadeiras do Parlamento, segundo resultados parciais.
“Pela segunda vez em poucas semanas, os cidadãos não apenas enviaram uma mensagem de continuidade, mas também nos deram um forte mandato para avançarmos mais rapidamente no caminho das grandes mudanças que nosso país precisa”, disse Mitsotakis após a divulgação dos primeiros resultados.
O adversário, o ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras, da Coligação da Esquerda Radical Syriza lamentou. “O resultado da eleição é obviamente negativo para nós. Sofremos uma grave derrota eleitoral. No entanto, creio que o resultado das eleições é ainda mais negativo para a sociedade e para a democracia”, afirmou o candidato esquerdista derrotado.
O peso da economia nos resultados eleitorais
Durante a campanha eleitoral, Kyriakos Mitsotakis prometeu aumentos salariais, principalmente para a população de menor renda, uma grande preocupação entre os gregos que viram o seu poder aquisitivo diminuir nos últimos anos, em um contexto de custo de vida elevado.
“Ele pôde se apoiar sobre seus resultados econômicos e o fato de que ele gera confiança sobre o futuro econômico do país, ao contrário de Alexis Tsipras, que preocupa”, analisa Joelle Dalegre, especialista em Grécia pelo Inalco, o Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais, na França, sobre a vitória da direita. “As pessoas tiveram uma experiência difícil com o Siryza, o que muitos não querem repetir. Essas pessoas se sentem decepcionadas com a esperança que havia sido depositada na esquerda”, completa a analista em entrevista à RFI.
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Partido de Kyriakos Mitsotakis ganhou eleição, o reelegendo para novo mandato na Grécia
O líder conservador também prometeu realizar contratações em massa no setor público de saúde, afetado por uma escassez grave de recursos desde a crise financeira e os programas de austeridade impostos a numerosos serviços públicos.
Família de políticos
Originário de uma dinastia política da ilha de Creta, Kyriakos Mitsotakis é filho do ex-primeiro-ministro Konstantinos Mitsotakis (1990-1993). Sua irmã foi ministra das Relações Exteriores e um de seus sobrinhos é o atual prefeito de Atenas.
Formado pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Mitsotakis fez carreira como consultor financeiro em Londres, antes de seguir o caminho político de sua família.
Deputado pelo ND pela primeira vez em 2004, o líder conservador atuou como ministro da Reforma Administrativa em meio à crise e aplicou cortes em massa de cargos no funcionalismo público.
Em 2016, um ano após a derrota de seu campo para a esquerda de Alexis Tsipras, Mitsotakis foi eleito líder do Nova Democracia, antes de chegar ao poder, três anos depois.
Fatos marcantes de seu governo
O primeiro mandato de Mitsotakis foi marcado pela recuperação de uma economia ainda convalescente, após anos de planos de austeridade drásticos, em que o país perdeu um quarto do Produto Interno Bruto. No ano passado, o crescimento grego atingiu 5,9%.
Nos últimos quatro anos, Mitsotakis também fez uma guinada em matéria de segurança, ao reforçar o dispositivo policial grego. Seu mandato, entretanto, foi marcado por escândalos, entre eles um caso de escutas ilegais envolvendo figuras políticas e jornalistas.
Onipresente nas redes sociais, o líder conservador teve uma política de comunicação agressiva, em um ambiente midiático caracterizado pela concentração dos principais veículos e canais de TV nas mãos de grandes grupos financeiros
Em março passado, o premiê enfrentou uma onda de protestos devido ao desastre ferroviário que causou 57 mortes e foi atribuído a negligências no sistema de sinalização da linha férrea grega.
Mitsotakis tem enfrentado ainda acusações recorrentes de devolução de migrantes para a vizinha Turquia antes de eles poderem apresentar um pedido de asilo em território da União Europeia (UE). O político sempre negou a prática, comprovada por vídeos e investigações detalhadas feitas por veículos internacionais.
Os quatro anos de Mitsotakis no poder ainda foram marcados pelo retrocesso do Estado de Direito e da liberdade de imprensa. Desde o ano passado, a Grécia ocupa uma posição ruim nesse quesito na UE, segundo o ranking anual da ONG Repórteres sem Fronteiras, atrás da Hungria e da Polônia.