Reunida por videoconferência nesta segunda-feira (31/07), a Organização de Cooperação Islâmica (OIC) disse estar “decepcionada” com a ausência de medidas tomadas pela Suécia e Dinamarca, após várias profanações do Alcorão e queima de exemplares do livro sagrado dos muçulmanos. Hoje, dois homens queimaram um exemplar do Alcorão durante uma manifestação autorizada pela polícia sueca em frente ao Parlamento de Estocolmo.
Em um protesto semelhante aos que desencadearam tensões entre a nação escandinava e países do Oriente Médio, nas últimas semanas, Salwan Momika e Salwan Najem pisotearam uma cópia do livro sagrado muçulmano, antes de atear fogo ao exemplar, como já haviam feito em frente à principal mesquita de Estocolmo.
Naquela ocasião, o ato gerou uma onda de indignação no Oriente Médio, com protestos no Iraque e outros países da comunidade muçulmana. Os homens já haviam realizado outro protesto semelhante em frente à embaixada do Iraque, em Estocolmo, em 20 de julho.
Os casos foram discutidos pelos chanceleres dos 57 Estados-membros da OIC, que participaram de uma reunião extraordinária da entidade sediada em Jeddah, no oeste da Arábia Saudita.
“Estamos desapontados por nenhuma ação ter sido tomada oficialmente para evitar a recorrência desses atos de provocação”, disse o secretário-geral da OIC, Hissein Brahim Taha, durante a abertura da sessão. “Gostaria de enfatizar que temos todo o respeito pelos povos sueco e dinamarquês e sabemos que os atos cometidos em seus territórios são obra de uma minoria de extremistas”, acrescentou o diplomata do Chade.
Incidentes causam agitação na comunidade muçulmana
Na Dinamarca, o movimento de extrema direita Danske Patrioter divulgou um vídeo, no final de julho, mostrando um homem profanando e queimando o que parece ser o Alcorão e pisoteando uma bandeira iraquiana.
Esses incidentes causaram agitação no Iraque, onde centenas de manifestantes invadiram e incendiaram a Embaixada da Suécia. O embaixador sueco em Bagdá foi expulso e o Irã anunciou sua recusa de qualquer novo embaixador do país escandinavo em seu território.
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Secretário-geral da Organização de Cooperação Islâmica, Hissein Brahim Taha
A Arábia Saudita, onde estão localizadas as cidades sagradas muçulmanas de Meca e Medina, convocou, por sua vez, diplomatas suecos e dinamarqueses.
Antes da reunião desta segunda-feira, a Suécia e a Dinamarca tentaram aliviar as tensões. Os ministros das Relações Exteriores dos dois países condenaram as profanações do Alcorão. Em telefonemas ao secretário-geral da OIC, os chanceleres ainda informaram sobre o processo de concessão de permissões para reuniões públicas, explicando que a polícia tomava essas decisões de forma independente, de acordo com um comunicado de imprensa da organização, divulgado antes da reunião.
O protesto desta segunda-feira foi autorizado pela polícia sueca, mas a força de segurança afirmou que as permissões concedidas se referem apenas à organização das manifestações, e não ao que acontece nelas.
“Proibir o Alcorão”
Os manifestantes disseram à imprensa que querem que o livro sagrado muçulmano seja proibido na Suécia. No pedido de autorização para o protesto, os organizadores declararam a intenção de queimar um exemplar do Alcorão. “Vou queimá-lo muitas vezes, até que o proíbam”, disse Najem, um refugiado iraquiano de 37 anos, ao jornal Expressen.
Mats Eriksson, porta-voz da polícia de Estocolmo, avaliou que os atos contra o Alcorão ocorreram “sem graves perturbações à ordem pública”.
Durante o protesto, Momika também pisou na imagem do influente clérigo xiita Moqtada Sadr, cujos seguidores invadiram brevemente a embaixada sueca em Bagdá em junho, antes de incendiá-la no mês seguinte.
O ato acontece em um momento de deterioração das relações da Suécia com vários países do Oriente Médio, após episódios seguidos de profanação do Alcorão.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, condenou o ato e alertou, em meados de julho, que não deveria haver novas ofensas ao Alcorão.
Muitos observadores criticaram os países muçulmanos por denunciar atos considerados islamofóbicos na Europa, mantendo silêncio sobre a discriminação e violência cometida contra minorias muçulmanas na China e na Índia.