Reservados, misteriosos, mas pouco ameaçadores. Para muitos, é essa a imagem das pessoas na Coreia do Norte, o primeiro adversário do Brasil na Copa do Mundo, nesta terça-feira (15/6). Porém, brasileiros que já estiveram lá e viram de perto a cultura, a sociedade e o dia-a-dia do país asiático têm outra percepção dos norte-coreanos.
“Veja o desempenho deles na Copa de 1966: bateram a Itália e chegaram a marcar três gols em Portugal”, lembra o ex-deputado federal Ricardo Zarattini (PT-SP), que esteve no país em 1971 para participar de um congresso representando o grupo de luta armada ALN (Ação Libertadora Nacional), do qual fazia parte.
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Naquele ano, a seleção norte-coreana protagonizou uma das maiores surpresas da história dos mundiais de futebol, chegando às quartas-de-final. O time do país socialista só foi barrado por Portugal (que, na época, vivia sob o salazarismo), que, depois de sofrer os três gols, virou o jogo para 5 x 3.
Agora, o episódio serve como inspiração para a nova geração. Na segunda-feira (14/6), um dia antes da estreia do time no campeonato, o técnico Kim Jong-hun prestou uma homenagem aos jogadores de 1966, em entrevista coletiva. Jong-hun disse que “o espírito de 66 inspira neste mundial” e lembrou que alguns dos participantes ainda vivos daquela Copa deram conselhos aos atuais jogadores antes do embarque da seleção para a África do Sul.
O jornalista pernambucano Marcelo Abreu, que visitou o país para escrever o livro-reportagem Viva o Grande Líder (Geração Editorial, 2002) – que descreve o país, seus costumes e a política -, concorda que o feito de 44 anos atrás serve de inspiração, mas afirma que os norte-coreanos não precisam nutrir-se apenas de lembranças.
“Ao contrário do que muitos pensam, o potencial da Coreia do Norte é bastante significativo, principalmente porque o país investe muito em esporte”, conta ao Opera Mundi.
Para Zarattini, o regime norte-coreano, ao contrário da maioria dos países ocidentais faz do esporte uma prioridade. “Lá, assim como a saúde e a educação, o esporte é uma das áreas que mais recebem investimentos e cada vez ganha mais projeção nos planos governamentais”, complementa.
Mesmo assim, tanto Abreu quanto Zarattini apostam na vitória do Brasil. “É evidente, eu sou um nacionalista radical”, afirmou o deputado, ao ser questionado sobre sua torcida no jogo desta terça-feira.
Palpites
Animados com o confronto, ambos acreditam em goleada brasileira. “Eu realmente gostaria que a Coreia do Norte tivesse um bom desempenho na Copa, mas contra o Brasil infelizmente não vai dar. Vamos fazer três gols neles”, palpita Abreu. Já o deputado aposta no placar de 4 x 0 para o Brasil.
Para o jornalista, a goleada é esperada, já que o futebol norte-coreano é realmente inferior ao brasileiro, porém não desprezível, de forma alguma.
“A mídia está alimentando um folclore de que os norte-coreanos são misteriosos, de que nada se sabe a respeito desta seleção. Porém, sabemos como eles jogam. Não há como negar que, em relação ao futebol, eles são bastante explícitos: vieram para a América do Sul, jogaram contra a Venezuela e fizeram outros amistosos televisionados. Nestas ocasiões, pudemos apreciar um pouco do futebol norte-coreano que, apesar de inferior ao brasileiro, tem suas qualidades”, comenta Abreu, que foi o primeiro jornalista brasileiro a entrar no país asiático.
Uma delas, por exemplo, é o atacante Jong Tae-se, que inclusive previu uma vitória contra o Brasil. Já o técnico Kim admitiu que o Brasil é forte, mas também não se intimidou.
“É claro que o Brasil é um time muito forte e um eterno favorito. Não que eu não saiba disso, ou que meus jogadores não saibam. Mas temos uma mentalidade realmente forte, e acho que isso vai prevalecer. Se vencermos amanhã isso irá trazer uma grande alegria ao nosso Querido Líder Kim Jong-il”, disse, na coletiva.
Atraso
Entretanto, os próprios torcedores norte-coreanos provavelmente não assistirão ao duelo ao vivo. “Normalmente, a Coreia do Norte transmite os eventos esportivos com atraso, algumas horas ou até mesmo alguns dias depois, pois tem receio de manifestações contra o governo durante a partida”, explicou Abreu.
A demora, porém, não deve ser impedimento para os norte-coreanos comemorem uma zebra contra o Brasil ou, pelo menos, festejarem a estreia na Copa na capital Pyongyang. “Não me surpreenderia com uma grande festa na Kwangbok”, completou Abreu, mencionando a rua em que se localiza a sede da Federação Norte-Coreana de Futebol.
Já Zarattini, apesar da afeição com a Coreia do Norte, se contenta com a festa verde e amarela. “Vou para o bar às 12h30 para fazer a concentração. Depois disso só vai dar Brasil”, comemora, antecipadamente.
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