Peritos da PGR (Procuradoria Geral da República) do México afirmaram nesta terça-feira (14/10) que os 28 corpos encontrados nas primeiras cinco valas clandestinas analisadas (de um total de 14) no município de Iguala, no estado de Guerrero (a cerca de 200 km a sudoeste da Cidade do México), não correspondem aos estudantes que estão desaparecidos desde o dia 27 de setembro. A falta de informações e a demora nas investigações têm provocado protestos no país.
Agência Efe
Familiares dos estudantes desaparecidos questionam: “quantos assassinatos e desaparecimentmos forçados permitiremos?”
“Posso dizer que temos alguns resultados sobre as primeiras valas encontradas; posso dizer que não correspondem ao DNA que os familiares nos deram”, afirmou o chefe da PGR, Jesús Murillo Karam, durante coletiva de imprensa.
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De acordo com Karam, o fato de os corpos não serem dos estudantes indica o grau de periculosidade do grupo criminoso Guerreros Unidos, que atua na região.
O titular da Agência de Investigação Criminal, Tomás Zerón de Lucio, informou que foram detidos 14 policiais municipais de Cocula, também em Guerrero, que confirmaram ter participado da detenção e entrega dos estudantes à organização Guerreros Unidos. Karam afirmou que, em breve, os agentes serão indiciados pelo crime de sequestro e que o objetivo “é encontrar os autores intelectuais do fato”.
Além disso, o Ministério Público prepara uma solicitação de ordem de apreensão contra o prefeito de Iguala, José Luis Abarca, e o chefe da polícia de Cocula, Felipe Flores Velázquez, por crime organizado.
A relatora sobre direitos das crianças e adolescentes da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), Rosa María Ortíz, disse, durante visita ao México, que recebeu informação “alarmante” sobre o desaparecimento de menores de idade e de adultos jovens, situação que afeta “todo o território nacional”. Em coletiva de imprensa, ela afirmou que existe um “crescimento alarmante no número de crianças não localizadas e supostamente desaparecidas forçadamente” e que as autoridades encarregadas pela investigação “dificultam também a implementação de atenção às vítimas”.
Agência Efe
Familiares, professores e estudantes durante protesto em Guerrereo nesta terça (14/10)
Novas valas
Na última segunda-feira (13/10), moradores da região e familiares dos desaparecidos encontraram mais quatro valas clandestinas próximas à região de La Parota, onde as cinco primeiras foram achadas. O procurador mexicano disse que esses novos casos serão investigados.
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Em entrevista ao site SinEmbargo, o advogado da União de Povos e Organizações do Estado de Guerrero, Manuel Vázquez Quintero, afirmou, que logo após a descoberta das novas valas, a PGR e a Comissão Nacional de Direitos Humanos foram avisadas “porque os delinquentes ameaçaram os companheiros de morte caso sigam avançando”. Ele garantiu, no entanto, que os familiares seguirão as buscas apesar das ameaças.
Na tarde de ontem, centenas de estudantes de distintas partes do país marcharam em silêncio e pacificamente em Chilpancingo para exigir a localização dos jovens sequestrados. Professores bloquearam agências bancárias e estudantes tomaram duas rádios em Chilpancingo para informar a população a respeito do motivo dos protestos. Os manifestantes também pedem a destituição do governador de Guerrero, Ángel Aguirre Rivero.
Entenda o caso
Oitenta estudantes da escola rural para professores Raúl Isidro Burgos, da cidade de Iguala, viajavam em um ônibus da empresa Costa Line. No dia 26 de setembro, estavam se organizando para coletar fundos para pagar a escola. Quando já iam sair dali, alguns patrulheiros da polícia municipal quiseram parar a caravana, que não interrompeu a viagem. Os policiais, então, segundo o testemunho anônimo de um jovem presente no local, começaram a disparar em direção aos ônibus. Depois, outros homens sem uniforme, que muitas testemunhas reconheceram como policiais municipais, dispararam outra vez e, mais tarde, encheram de balas outro ônibus no qual viajavam jogadores da equipe local de futebol Avispones.
O saldo foi de seis mortos, três dos quais estudantes, e vinte feridos. Cinquenta e sete estudantes despareceram, sendo que vinte deles, como afirmam testemunhas, foram levados à força por policiais de Iguala e do Estado de Guerrero.