O democrata-cristão Eduardo Frei tornou-se o candidato presidencial da governista Concertação no último domingo, ao vencer as eleições primárias. Seu rival será o empresário Sebastián Piñera, da Aliança pelo Chile, que liderou as pesquisas de opinião durante toda a campanha até a divulgação, na semana passada, de uma pesquisa da TNS Time que lhe colocou dois pontos porcentuais atrás de Frei em um eventual segundo turno.
EFE (10/03/2009) – Eduardo Frei visita Brasília
EFE (15/01/2006) – Sebastián Piñera vota no segundo turno das eleições passadas, quando perdeu para a presidente Michele Bachelet
Os dois candidatos são velhos conhecidos da população. Frei presidiu o Chile de 1994 a 2000 e Piñera disputou a presidência com a atual mandatária, Michelle Bachelet, na última eleição. Mas existem dois fatores que, há alguns anos, não poderiam ter sido previstos. A crise econômica internacional, com seus impactos no Chile, e o suposto envolvimento de Piñera em atos de corrupção influenciarão a campanha para as eleições de 13 de dezembro, concordam analistas e líderes políticos.
A pesquisa da TNS Time registra uma mudança de tendência nas preferências eleitorais dos chilenos. De acordo com a sondagem, realizada entre 2 e 30 de março, Piñera obteria 37% dos votos no primeiro turno, contra 31% de Frei.
Em um eventual segundo turno, contudo, o candidato opositor ficaria com 39% das preferências e o candidato governista, com 41%, porque receberia o apoio dos partidos de esquerda que não integram a Concertação e com os quais os governistas buscam alianças parlamentares. Assim, Frei supera o rival pela primeira vez e Piñera recua oito pontos porcentuais em relação a fevereiro, segundo a mesma pesquisadora.
Marcelo Trivelli, vice-presidente da Democracia Cristã, que integra a Concertação, afirma que esta mudança nas pesquisas é um efeito da crise econômica internacional, já que Piñera é “não só o líder, como também o representante” de uma classe empresarial financeira cuja imagem se deteriorou aos olhos da opinião pública. “O que mais afetou as pessoas – e isso é o que as pesquisas refletem – foram as repercussões da crise internacional. E gente como Piñera representa esse neoliberalismo implacável que foi a causa da crise”, disse Trivelli ao Opera Mundi.
As projeções de crescimento foram ajustadas para baixo nos últimos meses. Na semana passada, o Banco Mundial previu um crescimento perto de zero para 2009, enquanto a média de crescimento anual do Chile nos últimos cinco anos foi de cerca de 5%.
Enquanto isso, as exportações continuam caindo. O superávit comercial chileno foi de 950 milhões de dólares em março, 63,7% menos que no mesmo mês de 2008, segundo dados divulgados nesta semana pelo Banco Central. O motivo principal é a queda de 44,5% das exportações nos períodos de referência, graças à forte baixa do preço do cobre – do qual o Chile é o maior exportador mundial – resultante da crise internacional.
O desemprego, por outro lado, continua aumentando. No trimestre de dezembro de 2008 a fevereiro de 2009, o índice chegou a 8,5%, um avanço de 1,2% em relação ao mesmo período há um ano, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas.
A oposição acredita que esses números afetarão a Concertação em termos eleitorais. Joaquín Godoy, deputado da Renovação Nacional (que integra a Aliança pelo Chile), disse ao Opera Mundi que a crise internacional favoreceu a Concertação num primeiro momento, mas terá o efeito oposto nos próximos meses.
“A crise ofuscou a má administração econômica no Chile. O governo foi muito inteligente e vendeu a ideia de que o problema do emprego no país se deve à crise internacional. Mas agora virá uma segunda etapa e, à medida que a cirse do emprego continuar se aprofundando, a visão das pessoas em relação ao governo vai se deteriorar, e isto influirá negativamente na Concertação”, previu. Em sua opinião, Piñera é um “empreendedor” e “gerador de empregos”, justamente o que o Chile precisa.
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Falando de corrupção
Mas este não será o único tema da campanha. Há duas semanas, Piñera se viu obrigado a admitir que possui 1% das ações da rede chilena Farmacias Ahumada (FASA), investigada pela justiça do país pelo crime de colusão (pacto ilícito para prejudicar um terceiro). A FASA combinou com outras duas redes uma alta de preços de medicamentos que em alguns casos chegou a 300%.
Os próprios partidários de Piñera reconhecem que a participação na FASA pode prejudicar suas aspirações eleitorais. “Lamentavelmente, isso afetou nosso candidato”, afirmou Godoy. Já Trivelli assegurou que este será um dos assuntos centrais da campanha. “Esses casos de corrupção são o tema que mais vai afetar a direita”, previu.
Godoy argumentou que Piñera era acionista minoritário da rede e, portanto, não conhecia as decisões “administrativas” tomadas. Opinou que “o nível de baixeza e má intenção da Concertação é total” e que o grupo governista está “disposto a fazer qualquer coisa para se manter no poder”.
Anunciou, por outro lado, que a Aliança pelo Chile também tem interesse em falar de corrupção. “A Concertação levou a cabo uma política de corrupção, como por exemplo no caso das ferrovias estatais, quando inaugurou estações fantasmas, ou no caso Mirage [a investigação de supostas irregularidades na compra de aviões de guerra durante os governos de Eduardo Frei e Patricio Aylwin]. A Concentração acha que, com os recursos de todos os chilenos, vai pagar sua campanha eleitoral”, acusou.
Juan Carlos Gómez Leyton, historiador e doutor em ciências políticas e diretor do Doutorado em Processos Sociais e Políticas na América Latina da Universidade Arcis, considera provável que a tendência apontada pelas últimas pesquisas se mantenha e Frei vença no segundo turno. Para ele, o escândalo das redes farmacêuticas não passará pela campanha eleitoral sem deixar marcas.
“Frei é um capital social, histórico e político importante. Piñera sofreu reveses de comunicação que o ligam a escândalos empresariais e ainda não resolveu o problema do vínculo entre sua atividade política e seus negócios. Isto gera uma desconfiança terrível nas pessoas. Na direita é possível que não, mas sim nos setores médios e populares”, disse ao Opera Mundi.
Por outro lado, ele considera que a crise não modificará a imagem que as pessoas têm de Piñera. “A sociedade chilena é uma sociedade neoliberal. Os cidadãos se identificam com a visão de mundo dos neoliberais e tendem a eleger o neoliberal ‘social’ em detrimento do neoliberal de direita”, concluiu.
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