A ex-presidente argentina Cristina Kirchner se apresentou nesta quarta-feira (13/04) a um tribunal em Buenos Aires para prestar depoimento à Justiça, que a investiga por “fraude contra administração pública” junto ao ex-ministro de economia Axel Kicillof e ao ex-presidente do Banco Central Alejandro Vanoli por supostamente orientar o Banco Central argentino a vender dólares no mercado de futuros por um preço que causou prejuízo ao Estado.
Convocada pelo juiz Claudio Bonadio em fevereiro, Cristina compareceu ao tribunal acompanhada de seu advogado, Carlos Beraldi, e entregou seu depoimento por escrito. A ex-presidente se recusou a responder às perguntas do juiz e do promotor federal Eduardo Taiano.
Ela afirmou que as acusações que lhe estão sendo feitas não têm “o menor suporte jurídico e técnico” e fez duras críticas a Bonadio, a quem classificou como “arbitrário, parcial, orientado politicamente e não em quanto à política judicial”, acrescentando que “responder às perguntas não faria mais do que validar suas manifestas arbitrariedade, ilegalidade e incompetência técnica e professional”.
Agência Efe
Ex-presidente Cristina Kirchner disse que argentinos devem criar frente cidadã para assegurar direitos conquistados
Cristina publicou em seu perfil no Facebook a declaração entregue ao juiz. No texto, ela diz que seu envolvimento no processo de compra de dólares é uma tentativa da oposição de desqualificá-la, algo que ocorre contra governos populares. “Cada vez que um movimento político de caráter nacional e popular foi deposto ou finalizou seu mandato, as autoridades que o sucederam utilizaram de forma sistemática a desqualificação de seus dirigentes, atribuindo a eles a prática de crimes graves, sempre vinculados com abusos de poder, corrupção generalizada e ganhos ilícitos”.
NULL
NULL
'Frente cidadã'
Milhares de pessoas, incluindo membros da coalizão Frente para a Vitória e ex-funcionários do governo de Cristina, realizaram uma manifestação em frente ao tribunal em apoio à ex-presidente.
Após prestar depoimento, Cristina se juntou aos manifestantes e agradeceu o apoio dos que estavam no local. “Fiquem tranquilos. Podem me citar [no processo] mais 20 vezes, podem me prender, mas não poderão me calar e me impedir de estar com vocês”, discursou.
Ela sugeriu que a população argentina forme uma “frente cidadã” para defender as conquistas alcançadas na Argentina. “Não podemos permitir um retrocesso como o que vivemos em outras etapas históricas”, disse.
Agência Efe
Manifestantes kirchneristas e apoiadores de Cristina se reuniram diante do tribunal nesta quarta-feira
Segundo Cristina, a frente deve pedir aos legisladores que representem a vontade dos seus eleitores. “Que esse Congresso, a que chamavam o 'escritório de Cristina', seja o escritório do povo”, afirmou.
Ela também afirmou que o governo de Mauricio Macri deve cumprir a vontade da população, a quem foi prometido “a cada dia estar um pouco melhor e mais feliz”.
Cristina pediu que os argentinos avaliem como estavam antes de 10 de dezembro, quando encerrou seu mandato e Mauricio Macri tomou posse como presidente, e como vivem agora, depois de 120 dias de governo Macri.
“Nunca vi tantas calamidades cometidas em 120 dias”, disse, em referência à desvalorização da moeda, aumento de preços e o reajuste das tarifas de serviços públicos ocorridos no atual governo.
Venda de dólares
Cristina Kirchner é investigada em uma causa aberta pelo senador Federico Pinedo (PRO) e pelo deputado federal Mario Negri (UCR), ambos da aliança Cambiemos, do presidente Mauricio Macri.
Originalmente, os denunciantes apontavam ao ex-presidente do Banco Central pela venda de dólar a futuro em agosto, setembro e outubro de 2015 a uma cotização inferior à que se pagou na data de vencimento dos contratos, em março deste ano. A alegação é de que a operação teria causado um prejuízo de 77 bilhões de pesos argentinos ao BC.
Por considerar que a decisão de Vanoli teria necessariamente contado com o aval de Cristina e do então ministro Kicillof, Bonadio decidiu incluir os dois na investigação.