A cúpula dos presidentes da América do Sul, realizada nesta terça-feira (30/05) em Brasília, teve como principal ponto de tensão a participação da Venezuela, que causou incômodo em ao menos dois outros participantes do evento: os presidentes do Uruguai, Luis Lacalle Pou, e o do Chile, Gabriel Boric.
O progressista Boric, líder da Frente Ampla de esquerda do Chile, mostrou novamente seu discurso alinhado com os principais políticos de direita da região no que diz respeito à situação da Venezuela.
Em entrevista coletiva realizada horas antes de se dirigir ao encontro no Itamaratuy, o jovem presidente chileno disse que “ficamos felizes em ver a Venezuela retornando às instâncias multilaterais, mas isso não pode significar jogar para baixo do tapete ou fazer vistas grossas a temas que para nós são de princípios. Eu manifestei respeitosamente que tenho uma discordância com o que foi dito pelo presidente Lula, de que a situação dos direitos humanos na Venezuela era uma construção narrativa”.
“Não é só uma narrativa, é uma realidade e eu tive a oportunidade de vê-la com meus próprios olhos, a dor de centenas de milhares de venezuelanos que estão hoje em nosso país e que exigem uma posição firme e clara a respeito dos direitos humanos, que devem ser respeitados sempre, em todos os lugares, independente do viés político do seu governante”, alegou Boric, segundo o jornal chileno El Mercurio.
Ricardo Stuckert
Presidente chileno Gabriel Boric cumprimenta Lula durante cúpula dos presidentes da América do Sul, no Palácio do Itamaraty
O uruguaio Lacalle Pou, líder do conservador Partido Nacional do seu país, fez uma declaração parecida, dizendo que ficou “surpreso quando se falou que o caso da Venezuela era uma narrativa”.
“Todos sabem o que pensamos sobre a Venezuela e o governo da Venezuela”, disse o mandatário uruguaio, sem recordar mas fazendo alusão à sua conhecida postura crítica ao projeto venezuelano.
O presidente Uruguai também mostrou a postura mais crítica com relação à cúpula em si, se mostrando contrário até mesmo à pauta principal, que era a retomada da União Sul-Americana de Nações (Unasul) e de outras instâncias de integração regional.
“Chega de instituições, basta de instituições. Saímos da Unasul, imediatamente recebemos o convite para entrar no Fórum para o Progresso da América do Sul (Prosul) e dissemos que não, porque senão acabávamos entrando em clubes ideológicos, aqueles que têm um caminho e uma continuidade desde que correspondamos às ideologias”. Tem gente aqui que não concorda com a Unasul, levanto a mão”, disse Lacalle Pou.