O presidente da Comissão de Paz do Senado colombiano, Roy Barreras, revelou, nesta terça-feira (28/10), que o ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe, que atualmente é senador abriu a possibilidade de as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) participarem da política do país, inclusive oferecendo cargos. A proposta constava em um referendo, que seria realizado em 2003, mas foi vetado pela Justiça. A questão é uma das mais criticadas por Uribe no marco dos Diálogos de Paz, em progresso entre a insurgência e o governo em Havana, Cuba.
Agência Efe
Uribe é o maior crítico dos Diálogos de Paz entre o governo e as FARC, em Havana
De acordo com revelações feitas recentemente pela revista Semana, o ex-presidente, que governou entre 2002 e 2010, tentou dialogar com as guerrilhas do país, tendo o Brasil como intermediário em 2008 e 2010.
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Barreras, no entanto, mostrou um documento oficial datado de 27 de janeiro de 2003, no qual Uribe oferecia participação política não só à insurgência das FARC e do ELN (Exército de Libertação Nacional), como também a grupos paramilitares.
Em um dos artigos da lei que convocava o referendo, diz-se que, “a fim de facilitar a reincorporação à vida civil dos grupos armados à margem da lei”, o Executivo “poderá estabelecer, por uma só vez, circunscrições especiais de paz, sob a direção do governo”.
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Assim, o Executivo poderia, de acordo com o texto, “nomear diretamente um número plural de congressistas, deputados e vereadores, em representação dos mencionados grupos em processo de paz e desmobilizados”. O número de representantes seria definido pela presidência e os nomes, escolhidos entre os grupos armados e o governo, cabendo a este último a designação.
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A proposta foi classificada por Barreras como “audaz, generosa e até agressiva”. “Uribe iria entregar tudo em troca de nada”, já que o oferecimento foi feito antes de qualquer negociação, disse o senador. O texto foi aprovado pelo Congresso, mas a Corte Constitucional o derrubou por não estar de acordo com a Constituição.
Outro lado
Uribe contestou as críticas ponto a ponto e disse existir “diferenças abissais” entre proposta que ele fez e a de Juan Manuel Santos, atual presidente colombiano. De acordo com o hoje senador, o projeto de 2003 se referia a membros de grupos armados já desmobilizados que poderiam ser eleitos ou nomeados a corporações públicas. Isso só aconteceria se eles não tivessem cometido crimes distintos dos “chamados crimes políticos”, como “rebelião, sedição ou motim”.
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A denúncia foi realizada tempos após o Centro Democrático, partido liderado por Uribe, fazer uma das mais duras críticas aos Diálogos de Havana, na qual aponta o que chama de “68 capitulações” de Santos. O mandatário é acusado de ter acordado uma “representação política especial” com as FARC em um eventual pós-conflito. O documento também fala da existência de “expropriações indiscriminadas” e uma “massiva lavagem de dinheiro da guerrilha”, supostamente obtidos mediante o narcotráfico.
Nesta terça (28/10), o governo respondeu às acusações e esclareceu que serão entregues terras a camponeses mediante expropriação judicial de delinquentes e negou que a guerrilha terá representação política especial. Sobre a compensação econômica que as FARC realizará às vítimas, o governo esclareceu que a questão ainda não foi debatida no processo de paz e que “não há acordo sobre isso”.