“ Não me elegeram para restaurar o capitalismo em Cuba”: é com essas palavras que o presidente cubano Raul Castro respondeu às propostas da secretaria de Estado Hillary Clinton e de vários governos a União européia. Durante o discurso, feito ontem (1) na Assembléia Nacional, numa das duas reuniões anuais dos 600 deputados cubanos, ele criticou aqueles que dizem que o sistema político cubano ia desmoronar “após a morte de Fidel (Castro) e todos nós”. “Se é assim que eles pensam, vão fracassar”, afirmou.
O chefe de estado sublinhou, porém que o país estava disposto a conversar sobre todos os temas, sem abrir mão de seu sistema político e social. “O dialogo deve ser respeitoso e entre iguais”, afirmou. Castro aproveitou para fazer um balanço da situação econômica.
Segundo autoridades cubanas, a eliminação das restrições para que os cubano-americanos possam viajar para a ilha e enviar remessas para suas famílias ainda não entrou em vigor. Castro também lembrou que o embargo econômico seguia intacto, e que o Departamento de estado não tinha tirado Cuba da lista das nações ditas “terroristas”.
Distribuição de terras
Para o presidente cubano, as conquistas econômicas são modestas, mas representativas, e a principal delas foi o equilíbrio da balança comercial, conseguido com as substituições das importações pela produção cubana.
A estabilidade de preços, que tem sido cada vez maior e o aumento dos empregos nos últimos meses foram outros pontos importantes. Raúl Castro assegurou também que, graças à distribuição de terras, houve um aumento da produção agrícola do país.
A educação foi outro setor beneficiado, com a criação de 19 mil postos para professores para o próximo curso escolar.
O presidente cubano não deixou, porém, de fazer uma análise das dificuldades econômicas que o país enfrenta por conta da crise mundial. Ele avalia que a ilha conhece um dos momentos mais difíceis desde o “período especial” no começo dos anos 90, quando Cuba perdeu o apoio financeiro e comercial da URSS. O governo fez uma revisão da expectativa de crescimento para 1,7%. É a segunda do ano: em abril, já tinha rebaixou a taxa de 6% para 2,5%.
Os problemas econômicos começaram no verão passado com três furacões que devastaram a agricultura e destruíram milhares de casas, provocando perdas por mais de 10 bilhões de dólares. A crise mundial piorou o panorama. O níquel, um dos principais produtos exportados pela ilha, caiu pela metade. Os analistas calculam que as exportações cubanas devem declinar de mais de 500 milhões de dólares em 2009, por causa da queda dos preços.
Castro anunciou que governo ia fazer cortes de orçamento com objetivo de recuperar a economia dos efeitos provocados pela crise. Segundo ele, as despesas na esfera social devem estar em consonância com as possibilidades reais e, apesar de serem atividades beneficentes, não estão ao alcance da economia.
Falta de divisas
Também anunciou que as importações iam ser reduzidas de 22% em relação com o ano passado, o que significa que vários produtos podem faltar nos mercados. Esta medida, que deve permitir ao Estado uma redução de gastos de 3,4 bilhões de dólares tem como objetivo de limitar o déficit das contas públicas e dar conta do problema de falta de divisas. A crise obrigou Cuba a renegociar dívidas, pagamentos e outros compromissos com entidades estrangeiras.
Castro disse que o Governo trabalha nos planos econômicos para 2010 com as premissas de planejar uma balança de pagamento sem déficit, “assegurar” e “dar prioridade absoluta ao crescimento das produções e serviços que apresentam receita em moeda estrangeira”.
Interesse da Rússia
Nesse quadro pouco animador, os economistas ressaltam algumas noticias positivas. A crise econômica mundial pouco afetou a chegada de turistas. Só no primeiro semestre, mais de 1,35 milhões visitaram Cuba, um recorde na historia da ilha.
No dia 29 de julho, a Rússia assinou com Cuba um contrato para que a empresa russa Zarubezhneft possa explorar a parte cubana do Golfe do México, em busca de petróleo. Segundo um informe do instituto geológico dos Estados Unidos, Cuba teria 5 bilhões de barris de reservas no mar
A crise econômica é uma das razões avançadas para explicar o adiamento pelo Partido comunista Cubano (PCC) do seu congresso. Será substituído a corto prazo por uma conferencia nacional que devera eleger os membros da direção do partido. O congresso tinha que ser celebrado no final do ano, depois de ter sido adiado desde 2000.
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